CORONAVÍRUS. INCERTEZAS.DÚVIDAS.PIRÂMIDE INJUSTA.

Há uma pirâmide injusta reposta sua estrutura de tempos em tempos, para lembrar o que somos.

Nada do pensamento construtor do ideal de felicidade humana se realizou nas mais diversas correntes doutrinárias. Ninguém pode negar a realidade que se protagoniza.

As cartas políticas, constituições, rígidas ou flexíveis, em seus conteúdos, sempre ficaram na mera vontade. Sejam tiranas ou não. A história assistiu os vários implementos que se frustraram.

Sobreviveu na linha vencedora em maior parte o alinhamento com o princípio das liberdades na busca nem sempre concretizadora da felicidade humana. É o retrato histórico indiscutível.É a base de convívio político em número imensamente maior aceito pelas nações, recusado e poucas nações permanecendo entre as que restringem esse valor maior, liberdade.

Não por acaso a palavra "universitas", grei dos professores e alunos, acumula semanticamente um monumento de clareza que retira vendas, desde o começo da instituição, também o matiz de "universitas litterarum, "universalidade do conhecimento". Tomava-se conhecimento que estudar nesse plano fazia apreender todas as ciências da época, diante do "universum": "o todo das coisas divinas e humanas em suas conexões globais", segundo o ideal de Platão.

Essa a seta fundamental que mira as universalidades.

Tomás de Aquino, meu mestre Tomista, alinha a definição de espírito com o todo do ser em suas conexões globais. Essa postura diante do universo e a estrada percorrida pelos saberes trouxe o globalismo.

Estamos de novo depois de muitas dessas experiências que angustiam diante do mal que o bem trouxe. Globalizar é aproximar, relacionar-se, trocar aspirações que se querem melhores. Mas o pior, não temos muita visibilidade, ou quase nenhuma de como o mal se alastra e nasce. Lá na origem está sempre a vontade, se humano o mal e voluntário, ou a imponderabilidade da origem transversa que se esculpe na falta - nunca aclarada - no mal feito, se a configuração é pena involuntária vinda da natureza manipulada, pesquisada, difícil desse ângulo determinar, ou ainda na vontade intencional esclarecida. Incertezas...Sem uma precisão definida e identificada não se pode responsabilizar. Teses que surgem.

E estamos como sempre em face da dúvida.

A dúvida é o caminho do conhecimento. Os “sábios” não necessitam indagar.Será que esse “plus” da" universitas" aplaca a questão? Não creio. Ninguém domina o imprevisível e se apossa da saciedade dos saberes. Nisso somos todos uns coitados.

Quando Tomas interrompeu a produção da "Summa Teológica" dizendo “tudo que escrevi é palha”, se tem como certo que Jesus lhe apareceu. Dizem os biógrafos. Se sentiu tão desprezível e pequeno que se amordaçou no que é um dos maiores monumentos da sabedoria - não terminado - explicativa desse espaço em que vivemos entre as piores misérias e algumas felicidades.

Como somos pequenos! A sabedoria não reside em saber algo mais, nem mesmo pela dúvida tentar chegar a algo que traga a paz definitiva, mas na paz relativa que encontram alguns. A grande interrogação é "como?".

O que temos agora no encerramento das pessoas em suas casas -quarentena - temendo o que não se vê e pode estar em qualquer lugar?

Nossa finitude intransponível e a vontade temerosa. A foice que ceifa sem escolhas ou desigualdades, simplesmente ceifa.

Não se vive de sonho, embora permita-se sonhar.

A dúvida aumenta a própria dúvida, mas quase todas em certas horas não trazem compreensão, ao contrário, nublam a existente.

Parece que só na mutação serena e bela da natureza, no fim que é o princípio, se encontra a chave que é só luz. É um longo corredor, a própria vida, as vezes de temporalidade precoce. Razões desconhecidas.....

Padre Leonel Franca, o clássico escritor de vastíssima obra, em seu livro “O Problema de Deus”, ressalta que “No centro de todos os problemas humanos, inevitável e denso de consequências infinitas, coloca-se o problema da existência de Deus. Questão primordial, em todas as outras influi por essencial, e delas todas as demais radicalmente dependem.”

E por quê? Pergunto.

Responde Adolfo Levi, da Universidade de Pávia, professor de filosofia incrédulo que não conseguiu afastar de si o mundo das realidades, o Absoluto Intangível, não podendo de forma alguma descansar nas certezas de suas negações e, confessa: “A minha dúvida é, sobretudo, tormentosa e dilacerante porque me deixa sem resposta em face do drama da vida e da morte, dos problemas da dor e do mal e não me permite afirmar nem mesmo supor que as lutas e os sofrimentos dos seres vivos tenham uma finalidade e uma razão de ser, que a existência possua uma significação e um valor.”

A ciência explica nos seus restritos limites alcançados por seus métodos, explica, mas não totaliza nem pode totalizar suas explicações.

Confissões doloridas como a do filósofo Levi induzem a gigantesca dificuldade que a inteligência mostra como problema primeiro da vida; é questão racional de ordem. Compreende em parte quem exaure o processo cognitivo, de conhecimento puro, sem tocar, contudo, no privilégio incomunicável da Inteligência Infinita, pois não é dado tocar.

Diante do segredo do universo, de seu enigma, que pede uma solução explicativa nunca solucionada, a ciência se dobra totalmente incapaz. Não bastam as posições alcançadas. Sobre tal estado de fato, bem disse Pierre Loti: “A verdadeira ciência já não tem a pretensão de explicar que tinha ontem. Cada vez que um pobre cérebro humano da vanguarda descobre o porquê de alguma coisa é como se conseguira forçar uma porta de ferro, mas para abrir um corredor mais sombrio que leva a outra porta mais selada e mais terrível. A medida que avançamos, adensam-se o mistério e as trevas e o horror aumenta.”

É esse anfiteatro em que vivemos a nossa existência que trás um dia atrás do outro até que haja , quem sabe, um dia da máxima luz, um dia como o que deve ter vivido Tomás de Aquino.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 13/03/2020
Reeditado em 13/03/2020
Código do texto: T6886952
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