Maior epidemia do mundo
Sou uma pessoa que gosta de estatísticas. Números, porcentagens, hipóteses, enfim, gosto de analisar muitas coisas pelo ponto de vista da matemática. Claro que sou uma pessoa muito mais próximos das letras dos que dos números, por óbvio que parece, mas a frieza da matemática me seduz de maneira muito interessante e apesar de ser um marido fiel da área de humanas, às vezes me pego flertando com as exatas.
Eu nunca fui o melhor na matemática, dá para o gasto, mas lembro de minha professora no ensino médio. Professora Marisa. Ela gostava da matemática, dava para ver no seu olhar quando passava uma matéria ou quando prestava uma explicação no quadro negro. As pessoas ligadas a matemática tem uma vida mais simples, acho que porque todas as variáveis da matemática precisam ser alicerçadas na razão. Os matemáticos precisam ser racionais, mesmo que para nós meros mortais a racionalidade deles, não tenha nenhuma razão.
Exite um site mundial, chamado worldometers, (pesquise no Google) que transmite em tempo real estatísticas de acontecimento no mundo. Os dados são simplesmente estarrecedores.
Você sabia, por exemplo, que desde o primeiro dia deste ano já nasceram quase 30 milhões de pessoas no mundo. Por outro lado, já morreram perto de 13 milhões. Rapidamente notamos que nascem o dobro de pessoas em ralação as que morrem. Estamos longe da extinção natural.
Você sabia que neste ano, diariamente, morreram cerca de 27 mil pessoas de fome no mundo e que no ano todo 163 mil pessoas perderam a vida por falta de água. Segundo a Organização das Nações Unidas cerca de 821 milhões de pessoas passam fome no mundo atualmente e 802 milhões de pessoas não tem acesso à água potável. Hoje o mundo caminha para chegar a 8 bilhões de pe habitantes e cada vez que nos aproximamos desse número, os que morrem de fome ou cede também crescem. É estatística.
Agora vamos a outra estatística que você deve ter ouvido ou lido ainda hoje. O Coronavírus já infectou cerca mais de 100 mil pessoas e destes morreram mais de 3 mil. A taxa de mortalidade está na casa de 3%.
Todas as mortes registradas até aqui, em relação ao terrível Coronavírus, não chegam nem perto das mortes registradas em um único dia no mundo pela fome ou pela sede.
O Coronavírus é notícia no mundo todo. Governos estremessem, bolsas caem, dinheiros são distribuídos para pesquisas e o mundo propaga uma preocupação quase sem precedentes em relação à doença.
A maior pandemia do mundo é a fome, mas eu te desafio a procurar na sua televisão ou nos sites de notícias uma única nota que demonstre qualquer preocupação com isso. Você não vai encontrar.
Então, porque uma doença que matou menos de cinco mil pessoas em quatro meses, gera muito mais notícias e mobilização do que uma que mata 27 mil todos os dias?
A resposta para essa pergunta é a mais simples possível. O Coronavírus não escolhe pessoas para infectar. Pode ser rico ou pobre, andar de ternos de milhares de dólares ou de pé descalço, absolutamente todos podem estar a mercê da doença.
A fome não. Essa não atinge as pessoas mais abastadas. Ela não é preocupação na casa grande, apenas da senzala, e quando algo não atinge a classe de cima, então não é preocupação para a classe de cima.
Devemos abandonar as preocupações com o Coronavírus e passar a nos preocupar com a fome do mundo? Claro que não. A epidemia do Corona vírus é algo sério e que deve ser tratado com a seriedade que merece. Por outro lado, será que não sobraria pelo menos um minuto do nosso tempo para pensar nas quase 1 bilhão de pessoas que passam fome e cede todos os dias?
Será mesmo que algo que mata mais que qualquer doença no mundo não deveria estar no centro de todas as nossas discussões?
Será que a fome terá que ser medo daqueles 10% da humanidade que controlam todos os demais, para só então, tornar-se assunto de todos.
Me pergunto isso e entristeço e então, por isso, volto para as letras. A matemática é muito fria e racional para uma pessoa como eu. Só flerto com ela.