O Português

O Português


- Morreu dormindo como um passarinho.
- Bela metáfora.
- Quem?
- O que você disse é uma metáfora.
- Que o quê...O que eu disse que o cara quando acordou estava morto.
- Como é possível acordar,se já se está morto?
- Não sei.Só sei que esse meu amigo,com meta...,isso aí que você disse,bateu a caçoleta.
- Outra metáfora...
- Pô, cara.Acho que você tá querendo me ofender.
- Já vi que você não sabe o que é metáfora.Metáfora é...deixa prá lá.
- É bom mesmo.Mas como eu dizia, esse meu amigo que morreu,era muito moço.Para morrer assim tão moço deve ter pagado por cada pecado que cometeu.
- Aí é cacófato.Porcada...
- Que é isso,cara! Cada vez que eu falo uma coisa você vem aí com as tuas palavras difíceis.
- Tudo bem,continue.
- Então.Nunca pensei que ele fosse morrer dormindo.Achei que ele fosse morrer perfurado por umas trezentas balas.
- Aí é hipérbole.
- Você andou bebendo?
- Não,continue.Apenas constatações gramaticais;figuras de linguagem.
- Na verdade o Tonhão era um cara muito violento...
- Antonomásia.
- É o nome da sua mãe?
- Não,prossiga,prossiga.
- Você tá querendo me confundir.
- Nada disso.Só estou tentando analisar o seu português.
- Tô sabendo.Então o Tonhão,que bebia como um gambá,vivia no meio dos bandidos marginais.
- Antonomásia seguida de pleonasmo.
- Eu tô te avisando,cara.Pára com isso que eu tô ficando nervoso.O que acontece é que o Tonhão tinha umas carabinas que guardava atrás do armário e a gente pegava elas só prá fazer assalto,e daí...
- Anacoluto!
- Chega! Você tá tirando com a minha cara.ANACORNUTO é a p.q.p. e esse teu maldito português.Fui!