Paraty e o banquete matrimonial!

Foram cinco dias de puro extâse literário. Paraty engalanada estava como noiva vestida para o casamento. Cintilavam nas águas do rio Perequê- Açú, os raios do sol, podíamos ver correr sobre eles as rodas da biga de Zeus sentado junto a Dionísio, transportando doze deuses e heróis mitológicos. De suas mãos despencavam letras, palavras, em versos e prosa disputados por alguns dos mortais, e acredite nem todos conseguiam alcançá-las, pois pareciam petrificados por toda aquela beleza impactante.

Na cidade, cobertos pelas estrelas alguns desses escolhidos liam ou contavam os seus escritos como: memórias ficcionais, históricas, políticas, românticas. Durante o festim literário não se via em nenhum dos mortais a simples menção daquele tal _defeito de cor_, o qual envolve grande parte desse mundo tão estereotipado pelas autoridades de algumas das nações estrangeiras.

Não houve no comensal matrimonial voltado às letras, algum tipo de violência, como as tais malfadadas: rebeliões, guerras, atentados terroristas. O sangue dos inocentes não escorreu por essas areias brancas, tampouco não se puderam ouvir guturais pedidos de socorro de algum desses mortais.

Paraty se prostrou aos pés de Nelson Rodrigues, aquele jornalista, escritor e dramaturgo visto como um homem polêmico, desagradável, e que recebeu durante a vida ofensas inimagináveis, mas que fez a história do teatro brasileiro.

A FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) levou à conexão de um país ao universo da literatura sem fronteiras, e nos propiciou caminhar ao lado nas ruas coloniais com o ganhador do Pulitzer, tomar café com a senhora que conquistou um Brooker Prize, ou ainda rir das irreverências do senhor avermelhado, que descobrimos ter um Prêmio Nobel no seu currículo.

Além disso, nos sensibilizamos com muitos escritores ainda não laureados sentados nas esquinas, bancos da praça, em pé na frente dos cafés e restaurantes, lendo as suas poesias, contos ou crônicas. Isto é a FLIP, democrática, politizada, irreverente, carinhosa, inovadora, enfim (...), carregando nas mãos o mais bonito ramalhete de flores contendo no seu interior a ‘Literatura Brasileira e Universal”.

Ana Marly de Oliveira Jacobino

Coordenadora do Sarau Literário Piracicabano

marlyjacobino@bol.com.br