A Biblioteca Babel foi a culpada
Jorge Luís Borges, gênio de primeira grandeza, escreveu um conto fantástico (em todos os sentidos) chamado “A biblioteca de Babel”. Nele mostra um lugar maravilhoso, uma biblioteca infinita, onde tudo está disponível e que abarca todo conhecimento. O paraíso por excelência, mesmo por que ele acreditava que o paraíso fosse mesmo uma espécie de biblioteca.
E eis que somos; nós, a humanidade, brindados com a internet. Um lugar que nos faz ter o mundo na palma das mãos, à distância de um "click". E o que fazemos? O que a humanidade sempre faz: fodemos com tudo.
A internet de objeto maravilhoso, de lenitivo para as grandes ignorâncias generalizadas, de enclave virtual de todo o conhecimento, virou o maior cemitério da inteligência humana.
Os ódios são destilados sem moderação, os ânimos se acirram como se não houvesse amanhã, e a burrice (pior que a simples ignorância, que essa não é volitiva, mas fruto de uma paciente busca por não encontrar a verdade) campeia sem fim. Julgamentos insensíveis são feitos e as condenações são asseveradas por imbecis que não tem capacidade de olhar para o próprio umbigo como decisões terminativas incontestáveis. É o que outro gênio notou antes dos reles mortais: ela, a Internet, deu voz ao idiota da aldeia. A Biblioteca de Babel serviu de palco para o que havia de mais podre e nefasto nas mais sombrias almas humanas.
Talvez ainda haja esperança de um futuro melhor. Mas as perspectivas são aterradoras. Até matematicamente explicamos isso. Algoritmos que nos dão uma visão unilateral do mundo, proporcionam uma visão limitada da realidade. Sabemos o que queremos saber, o que nos interessa saber; o resto, o contraditório, não nos chega ao conhecimento e com isso todo um universo que se poderia abrir para uma nova experimentação, não vai existir e o general na biblioteca vai sempre ter sua visão totalitária reforçada por uma história contada a sua maneira, com o desfecho que ele quer tenha.
Ao menos as bibliotecas verdadeiras, fonte de iluminação, ilustração e convertimento de almas ignorantes em seres de luz, continuarão a existir, mesmo depois dos seres humanos ela continuarão iluminadas, solitárias, infinitas, perfeitamente imóveis, armada de volumes preciosos, e incorruptíveis. Celeiro de ideias e ideais, tolerância e amor á verdade. E como dizia o mestre Borges: minha solidão se alegra com essa elegante esperança.