CECÍLIA

Enquanto olhava para ela, pensava no quanto eu gostaria que ela fosse como antes. Como quem lê meus pensamentos, senti que ela me olhava de volta tentando me fazer entender que ela não era mais aquela, mas que ainda me amava. Tive tempo de compreendê-la e lamentei que muitas pessoas não tenham a chance de resolver suas saudades antes que virem culpa. Ela morreu e eu confrontei mais uma vez a realidade de que toda vida acaba, me perguntei diversas vezes se eu realmente tinha feito tudo que podia por ela, tive dúvidas se ela soube o quanto me fazia bem. Alguns dias eu me sinto mais triste que outros.

O mundo te dá medo? Porque todo dia eu me assusto um pouco com alguma notícia e não sei se é porque estou mais frágil e com menos coragem ou se está tudo meio estranho mesmo. Ela nem sabe quanta vida deixou aqui. Nem quanto de mim deseja estar perto de quem me importa – uma vez eu disse que queria ter braços imensos para acolher todas as pessoas que eu amo e ela disse: mas você tem. Lembrei com carinho e pensei que talvez eu pudesse usar outras cores que não o preto. Não será a primeira coisa que farei com medo. Adeus, Cecília. Adeus, e obrigada.

#TextoDeQuinta

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 12/03/2020
Código do texto: T6886400
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.