ET
É normal ver pedinte nos grandes centros urbanos, nos bares, lanchonetes e restaurantes; mas esquisito incomodar-se com sua presença. É como uma mosca pousando na sopa ou um fio de cabelo perdido no meio dos temperos. O primeiro sentimento é de repulsa, depois, rejeição. Ninguém quer ser incomodado no meio de um almoço ou dividir o pão com queijo e presunto. Mas é que a fome não carece de aviso prévio ou aulas de etiqueta; ela é uma necessidade básica. Não deveria ser normal tanta gente passar privação alimentar ou dormir sob o manto estrelado, no banco da praça, enrolado nos jornais feito pacote, e ainda ser considerado um ET indesejado no seu habitat. De fato, é esquisito, o animal racional, chamado, homem. Ele é um agente causador da miséria; inventou a moeda, estruturou o poder, valorizou o bem de acordo com a demanda e mata o próximo em nome da autopreservação. Nem sei se tem um coração, esse desprovido de espírito. E, no natal, tem a cara de pau de bancar o irmão de Jesus Cristo. Quando morrer, o pai da mentira vai mandar o infeliz fazer seu inferno particular, pois é um forte concorrente. Não é normal a naturalização daqueles que vivem à margem social, tampouco, usar a capa da invisibilidade para fugir deles.