Invasoras

Num vaso de flores, no jardim de casa, encontrei duas mudinhas do inço que conheço como leiteiro ou café brabo.

No meu tempo de colono, digo agricultor, uma forma mais polida, trabalhei muito de boia fria capinando o tal leiteiro. Suas folhas arredondadas, do tipo larga, confundiam-se com as folhas da soja. Exigia muita atenção na hora da limpeza. Todo cuidado para que não arrancar pés de soja e deixar pés de inço, uma praga na lavoura daqueles tempos.

Na época em que labutei na roça, surgiram os primeiros herbicidas que combatiam as ervas daninhas invasoras, assim denominadas tecnicamente na revista “O Tatu” distribuída pela ASCAR. Havia, basicamente, três tipos de venenos para aplicar nas plantações: contra folhas estreitas, contra folhas largas e os herbicidas contra qualquer tipo de inço. Esse pegava parelho.

Hoje a ciência está muito desenvolvida. Grandes empresas multinacionais criaram as sementes transgênicas. Agora os herbicidas eliminam qualquer vegetal, menos o transgênico semeado naquela lavoura específica.

Ia dizendo: dois mirradinhos pés de café brabo nasceram no meu jardim. Assim sem mais nem menos, como se soubessem da minha origem rural. Será que foram os passarinhos que as semearam? De onde vieram as sementes? Não identifiquei exemplar algum em nosso condomínio. Dá para pensar que “é um belo gesto da terra”.

Pelo sim, pelo não, mantenho todos os cuidados no cultivo das invasoras, para mim belos exemplares de leiteiros genuínos e orgânicos, nada transgênicos. Espero que deem sementes que multiplicarei para o meu regozijo. Talvez até distribua algumas para os vizinhos. Estes, em geral urbanos, nem desconfiam de que, tecnicamente, sejam plantas tão malvadas a ponto de serem nominadas como terríveis invasoras.

Estarei assim, quem sabe, colaborando com a ciência e a ecologia, mantendo a salvo uma espécie tão linda, em perigo de extinção, visto que é tão odiada pelo colono que já fui e que provavelmente ainda sou.

Com este meu gesto, talvez, terei a chance de me redimir em parte.