Quando eu não mais existir* (06/03/2020)

Quando eu não mais existir... Onde ficarão guardadas as imagens de minha infância? O que será feito dos meus livros?

Quando eu não mais existir... - Quem vai regar as minhas plantas e cuidar de Nina, que não sabe cuidar de si?

Quando eu não mais existir... - Não terei conhecido o rosto de minha mãe; a aflição de cada dia; os beijos de minha tia Ninita.

(...) Não serei mais odiado, perseguido, censurado, questionado...- E a morte não haverá de ser a minha desgraça. (...)

Quando eu não mais existir... - Serei a folha seca na aridez da terra; a nascente de um rio que secou; um pássaro ferido na asa; o vento que já passou; o último verso de um poema de Drummond.

Quando eu não mais existir... - Nunca terei existido. O começo e o fim, diluir-se-ao no silêncio da eternidade. E não há plano melhor do que esse.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 08/03/2020
Reeditado em 23/09/2023
Código do texto: T6883480
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