ASSUNTO PRINCIPAL.
Procuro por assuntos para a crônica de domingo, procuro... Não encontro. Desejo falar de qualquer coisa interessante, vil, corriqueira, qualquer assunto importante ou não, que valha ou não essas indecisas linhas. Vasculho a memória de um lado para outro e nada de achar assunto. Meus pensamentos estão fugitivos, procuro-os inutilmente, parecem ciganos que em uma noite está presente e logo pela manhã levantam acampamento e partem. A cabeça chega a doer, nada aparece, nem uma linha de um mísero pensamento, nem mesmo um fiapo sequer de alguma memória perdida. Estou seco por dentro sem nada para dizer. Entristecido, caminho de um lado para outro dentro de casa. Vou para sala, no sofá, minha sogra assiste entusiasmada o programa da Record. Retorno a cozinha, no fogão minha esposa agita-se aqui e ali, compenetrada em terminar a janta. Fico quieto em um canto qualquer observando ela cozinhar, confesso que, o aroma saboroso da janta me deixa desconcentrado. As poucas palavras que busco ali e acolá fogem assim, de repente, a cada minuto a coisa fica mais complicada.
Na parede, o relógio revela meu desespero, o desejo dentro de mim se intensificaram, nada de assuntos, nenhum resquício. Nem mesmo nas lembrança da época da infância na fazenda Lindoya em Minas Gerias, da escola Dr. Belo lisboa, da professora Bete, dos colegas, da merendeira caprichosa, que, até ao dia de hoje não sei o seu verdadeiro nome, ela era conhecida pelo codinome de, 'Mariola'. Uma excelente pessoa. De trato áspero, confesso, porém, adorável.
É horrível quando somos traídos pelos próprios pensamentos. Uma vez mais, a cada tic e tac do algoz relógio na parede, vejo-o surrupiar descaradamente cada precioso minuto do meu escasso tempo.
Começo a pensar neste confuso 'tempo' em si, no tecido do espaço tempo, correndo vertiginosamente para o futuro. Algumas teorias - muito interessantes eu diria - sugerem que o passado, presente e futuro é uma coisa só, que na verdade tudo já aconteceu. É tudo muito bizarro eu sei, afinal, o que nesse mundo não é. Esse é o tipo de pensamento que ronda a minha cabeça. Como disse anteriormente, nada que desperte interesse.
Esse 'pensamento' desalienado logo vai embora como os demais, e lá está ele novamente, o 'tempo' nos ponteiros do relógio medindo minha agonia, meu desespero, minha angústia inexplicável. De tanto tentar, decidi não tentar mais, vou deixar os pensamentos fugirem, e depois se quiserem voltar arrependidos quando assim desejarem tudo bem. A vida é interessante, feita de momentos gravados no tempo, talvez inexistentes na complexidade desse confuso universo misterioso. Sou apenas mais um, jogando palavras ao vento, algumas delas respinga nessa folha em branco formando essa 'diferente' crônica, onde o nada, é o assunto principal.