Tarefas domésticas, um relato de domingo*

Último domingo, após uma série de pequenas tarefas domésticas que fazíamos, minha esposa me disse mais ou menos assim: “como é bom quando a gente arruma as coisas juntos”. Eu, pego de surpresa pela colocação, mas não inconsciente da afirmação que ela fizera, disse quase monossilabicamente, “é verdade”.

Não sou a pessoa que mais ama tarefas domésticas, mas sei que sem este esforço diário para deixar as coisas melhores dentro de casa, mais organizadas e, enfim – tornar a casa verdadeiramente habitável – não há como ser feliz.

Este é um grande defeito meu. A preguiça de arrumar coisas e especialmente de lavar a louça. Eis aí algo que eu realmente acho um negócio chato pra burro. Lavar talheres então é o tédio inoxidável! Varrer, limpar, borrifar produto de limpeza, passar pano, torcer pano, secar, estender roupa e recolher e guardar e por aí vai, tudo isso é chato, mas lavar a louça ganha disparado.

Eu acho que existem mais pessoas como eu no mundo, mas isto não diminui o prejuízo de ser deste jeito. Não acredito mesmo que alguém nasça gostando exatamente de limpar a casa, mas pode nascer sim gostando de se sentir bem e é isto que me move (ou me arrasta) nas tarefas domésticas.

Quando minha esposa me disse que é legal quando arrumamos as coisas juntos, confesso que me senti mal por ter todas estas opiniões que escrevi aí em cima. Foi como se eu me olhasse no espelho e enxergasse um monstro feio e ressentido mostrando a língua como um crianção. Ela ficou tão feliz com aquele esforço que eu fiz sem ela pedir, sem discutirmos e, melhor, sem eu fazer cara feia (pelo contrário, eu estava focado em fazer aquelas tarefinhas banais que não me fizeram perder nem duas horas da minha vida), que me fizeram ficar feliz também com aquele movimento todo.

Em um momento que nosso filho dormiu, ainda naquela manhã, nos sentamos e tomamos uma cerveja junto com alguns aperitivos que preparei ali, na hora. Conversamos um pouco e partimos para aprontar o almoço, a sobremesa e todo o resto das rotinas dominicais dos que ficam em casa.

No fim daquele longo dia, conseguimos assistir um filme após muito, muito tempo.

Jefferson Farias

*Publicado originalmente em https://ocronistainutil.wordpress.com/2020/03/03/tarefas-domesticas-um-relato-de-domingo/