A Arte de Ser Cronista
O cronista fala dos fatos do dia-a-dia, do que lhe acontece, ou que sucede acontecer a outros. É como um fotógrafo que busca, em poucas palavras, formar um retrato da sua época, dos hábitos e costumes.
Não se pode prender a um estilo, mas tenta acompanhar o ritmo que a vida tem. Por vezes é fictício, quase se aproximando do conto, resvala na poesia, sem se utilizar das rimas e mergulha de cabeça na prosa, discernindo, apontando, rebuscando ou ilustrando.
Na Grécia os filósofos, nas praças, decantavam sobre o que se passava em suas mentes. Foram, talvez, os primeiros cronistas. Mesmo os contadores de histórias, como a notável Sherazade das Mil e Uma Noites, aproximavam-se da sua essência.
Favor não confundir o cronista com um fofoqueiro, este último apenas repassa a notícia, muitas vezes maliciosamente, procurando azedar um fato.
O cronista não azeda, ele azeita, apurando um evento, tornando-o requintado, por mais simples que seja. Um aperto de mão, ou um toque no ombro casual, podem, conforme as lentes do autor, transformar-se em jóia rara.
Por vezes filosofa, encanta e enternece.
Existem os que criticam fazendo rir, ou que nos abrem os olhos, através de uma letra ácida, que corrói as mazelas da sociedade.
Associo as boas crônicas às músicas de Caetano, Chico e Gal, à pintura de Tarcila e à praia de Copacabana, como o respeito que todos os outros cantores, pintores e praias merecem.
A boa crônica é como tomar cafezinho quente em manhã que bate um frio. Vale por uma conversa com um amigo. Acalanta como braço de mãe. Pode também nos despertar, como alerta de mestre, ou apontar o caminho, como as estrelas aos antigos navegantes.
Não sei qual o ritmo de crônica que encanta o leitor, mas prefiro não citar um nome, pois com certeza esqueceria alguém. De todos os gêneros da literatura, é o que mais me fascina, pela versatilidade. Reunindo, se fosse possível, todas as crônicas dessa terra teríamos delimitada a alma do nosso povo, e, também, alguns dos nossos sonhos.
Ser cronista então, talvez seja deitar no papel um pouco do que somos, sentimos ou pensamos; espelhando o trajeto de nossa sociedade, ao tempo que refletimos a nossa própria existência. Nem mesmo as estrelas são eternas; mesmo assim, como as boas crônicas, brilham enquanto existem.