Ghost
Eu moro em uma casa grande. E na maior parte do tempo acabo ficando sozinha.
Mas eu sei que não estou, de fato, sozinha.
No final do corredor escuro. Agachado atrás da porta. Escondido no canto do olho. Eu sei que estão lá.
Uma criança de pijama. Uma mulher de cabelos vermelhos. Um homem com uma mala de ombro.
Nunca consegui olhar direto para eles, mas sei que estão lá. Eu escuto durante a noite. Quando a única pessoa na casa sou eu. Quando deito no sofá e começo a cochilar. Estão sempre lá.
Ninguém mais percebe e eu sinto que sei quem são. Sinto que os conheci em vida. Que estão aqui por minha causa.
Às vezes, no silêncio da madrugada, eu paro no meio da sala e tento conversa:
“- O que vocês querem? ”
“- Quem são vocês? “
“- Por que eu? “
Eles nunca falaram comigo. Mas a menina correu na minha frente uma noite. O poste da rua iluminou parte da sala e pude notar que ela vestia um pijama.
Um pijama como o meu, no dia que minha mãe foi embora. Branco com porquinhos azuis.
Foi então que eu percebi.
Um pijama branco e azul, como o meu. Cabelos vermelhos e longos como os da minha mãe. Uma mala de ombro como a que meu pai usava para trabalhar na cidade vizinha.
Por muito tempo eu pensei que eram fantasmas. Fantasmas de uma família que morou ali. Fantasmas que decidiram me seguir. Fantasmas que não queriam partir.
Mas, na verdade, sou eu. Sou todos eles. Fantasmas do passado. Do meu passado, me mostrando o quanto eu estou presa nele.