Todos erramos, mas...

Não sou afeito a correções. A ficar parando as pessoas e dizendo que forma linguística é correta ou incorreta (que coisa deselegante!, diria Sandra Anenberg), até porque, como diria Ferreira Gullar, “Quem tem frase de vidros, não atira crase na frase dos outros”.

Mas devo citar que vivi do assunto, de escrever frases, de comentá-las e, sempre com leveza, mostrar o recomendado e o não recomendado em determinadas situações. Olhem, meus jovens, a língua que usamos nos estigmatiza – dizia eu. Esse foi um de meus mantras, embora nunca me esquecesse de que a língua é a manifestação mais maravilhosa de nosso jeito de ser, portanto diminuir a linguagem de alguém é diminuí-lo como pessoa.

Sempre também incentivei os jovens a ajudarem os colegas. Se, na classe, um verdadeiro amigo está insistindo muito no ‘nóis vai’ ou no ‘a gente vamos’, procure – dizia eu – discretamente ajudá-lo e , lá na frente, eu administrava isso de forma bem impessoal, claro que fazendo alguns vestirem lá suas carapuças.

Abro um espaço, entretanto, para falar sobre grafia. Nesse aspecto, sempre insisti em que o erro realmente existe, mesmo porque há uma normatização, uma lei, um vocabulário ortográfico oficial, produzido pela Academia Brasileira de Letras, o qual deve ser cumprido, ainda que discordemos!

Ariano Suassuna, numa de suas imperdíveis palestras, disse que reclamou com o Aurélio quando o dicionarista lhe ensinou que o nome do escritor deveria ser com ‘ç’, porque é de origem indígena, ao que ele retrucou: – Mas quem é que decidiu?

Quem me acompanha até aqui, já está esperando que fale dessas escorregadas que volta e meia surgem no registro de importantes autoridades. Seguramente, um mal menor, diante dos nossos graves problemas. Mas, convenhamos, não custa enviar o texto para um assessor especializado.

Tenho observado também – não sei se é marca dos tempos de crise, em que se economiza com tudo (inclua-se o revisor!) – vários problemas gráficos nas tarjas que resumem as matérias dos noticiosos na tevê. Às vezes, a correção é rápida (falhou a digitação!); em outras, o erro permanece e fica como lição para os incautos. Afinal, imagina-se que a televisão não erre!

Sob esse aspecto, o Acordo Ortográfico – ainda mal-assimilado – tem mesmo a sua cota de culpa. Observem quantos (e me refiro a textos de fontes credenciadas!) ainda grafam ‘idéia’, ‘assembléia’ etc., em dissonância com as regras atuais.

Um amigo, meio metido a escritor, criou o personagem Bóia (com ‘o’ aberto) e se recusa – o que é compreensível – a fazer o registro sem o acento. Vi outro dia, em um dicionário atualizado, a grafia ‘sinusóide’, preservando o acento antigo. E durante muito tempo veremos ‘geléia’, ‘vôo’ , ‘vêem’, e por aí vai...

Dizia o grande professor Mário Roberto Zágari que a “ortografia é intocável e temos que consagrá-la” – talvez antevendo essa confusão toda, que advém de constantes reformas em nosso sistema gráfico.