Boa ação
Costumo ir ao Ver-o-Peso (alguns o chamam carinhosamente de “Veroca”). É um complexo do qual fazem parte mercados de peixe e de carne, feira livre, artesanato, ervas e medicamentos naturais – e outros produtos.
Vou lá tomar açaí com peixe frito. Farinha, água com gelo. É gostoso, uma delícia.
É um logradouro popular – o pessoal de baixa renda é quem mais o frequenta, eles dão vida ao local, pela descontração, diferente dos shoppings onde a turma é indiferente, soberba.
Vez por aparecem gringos por lá, um ponto turístico. Por ser área aberta todos têm acesso a ela, o que a torna democrática.
Logicamente tem mendicância. Pedintes.
Creio que a prática esteja presente no Brasil todo. Ouvi que até em Nova Iorque tem gente morando na rua, mendigos. Não sei. Não conheço aquela megacidade.
Estava eu lá, comendo. Vem um cidadão, pedinte.
Uma vasilha na mão. Pediu à proprietária do ponto: ----- Dá pra me arrumar um pouco de comida?
Olhei para ele. Não parecia um dependente químico. Não. Um semblante de quem estava com fome, faminto.
A mulher, a comerciante, disse-lhe: ----- Passa mais tarde. Esse mais tarde seria no fim do expediente – se sobrasse alguma coisa.
O homem se foi. Bem, aquilo me tocou. Me senti mal. Pensei, eu estou aqui enchendo a barriga, “de boa”, e esse cidadão desfortunado, nessa situação.
Sim, aquilo me fez mal, sei lá, pesou-me a consciência.
Terminei o açaí com peixe. Paguei e despesa. E fui atrás daquele ser, faminto, jogado à margem da sociedade, pária.
O procurei. E o encontrei. Estava próximo a uma mesa, pedindo comida a um casal. O chamei. Disse-lhe: ----- Vamos aqui.
O levei para comer, a ele paguei um almoço, peixe, macarrão, arroz, feijão.
Me agradeceu. ----- Obrigado, senhor.
Fui embora, um domingo à tarde. Não temos de contar coisas assim, de fazermos uma boa ação. Não.
Por várias vezes deixei de fazer o mesmo. Narro isso por ter me sentido bem com a ação.
Preciso fazer mais, bem mais. É pouquíssimo o que faço para o próximo.