Beijo na Praça da Sé
Um outro domingo. Um novo domingo. Um outro domingo que vai chegando ao fim. Pelas ruas e calçadas, panfletos de candidatos. Uma guerra pela cidade: “Votem em mim!”, prega um candidato. “Não votem nele!”, enfatiza outro. “Votem em mim! Não, não votem nele!”, afirma o primeiro.
Em debate em plena praça pública, trocam farpas e arranhões. Tons de voz exaltados, que contagiam a plateia de curiosos. Em plena Praça da Sé, ao lado de profetas, mendigos e curiosos, os candidatos gritam, esperneiam e retratam a personificação da política do País.
Sem propostas concretas, um chama o outro de “Cretino!”. O outro chama o um de “Bicha!”. O primeiro responde: “Bicha mesmo! Com orgulho! Quer um beijo?”, desafia o outro. “Vem cá, vem! Vem que te dou um beijo!”
O segundo, machão, defensor dos bons costumes e da família, responde que não!
Mas, de repente, num excesso de fúria, agarra o primeiro e tasca-lhe um beijo.
Um beijo longo e caloroso entre um candidato gay e um outro candidato machão (ativo, mas não passivo, como pensava).
Um beijo no meio da Praça da Sé, em plena luz do dia, com direito à plateia.
Um beijo, que após ser dado, no entanto, não previa o que viria depois.
O machão puxa seu 38 e dá um tiro no outro candidato.
Logo em seguida se mata.
Então, trombadinhas correm e logo esvaziam os bolsos dos dois.
Enquanto isso…
Os profetas fazem suas profecias…
Os curiosos se amontanham ao redor dos corpos.
Até que os corpos sejam retirados pela polícia.
E tudo volta a ser como antes…
E mais um domingo se vai…
E mais uma semana se inicia.