SILÊNCIO. RESPONSABILIDADE. SERIEDADE.

Recolher-se ao seu silêncio tem momento próprio.É como ser responsável no que faz, no que diz, no que expande. Se alguns soubessem como pode ser benéfico o silêncio, fariam como São Tiago ensinou em sua Carta.

É nesse silêncio que se apagam as ocupações e as preocupações. É nele que se encontra a paz que entra em luta com as distrações todas, amenas ou não, que satisfazem os sentidos ou os deixam em pânico por ver o que o rodeia com claridade. E vê um pouco mais do que por outros pode ser visto, sem paixões.

Certas atividades e profissões descerram diariamente os severos e fortes gravames em que vive a humanidade, muitas vezes por não silenciar, quando podia.Por vezes você está no centro desses problemas, para ajudar a resolvê-los. É convocado. E assiste a responsabilidade de quem não silencia.

Não quer o corpo, mas pede o espírito o silêncio, a luta forte e decisiva entre o interior, sua mensagem rica e nobre, e o exterior com todas suas conquistas falazes avaliadas e mitigadas. Há um Deus de cada um, uno e plural isocronicamente, que abre a porta para o silêncio. Para a paz.

Referências singulares habitam individualidades espargidas para amplidões, o Deus-interior perdido nas conquistas passageiras e expressivas somente na rapidez do momento, da fugacidade. Da vontade que deixa de ser responsável.

Ouvir falas diversas, sabê-las filtrar na sonorização interior. Púrpura nobre que veste virtudes, encobre matérias inferiores, sons que vibram nas cordas e se fundem no pulsar da lira, esperança antevista perdida nas fronteiras do futuro, que a barreira do tempo nega e a temporalidade não alcança. Sem silêncio não há como voltar, e fazer remissão.

Viver o silêncio não significa cerrar portas e janelas, viver outro mundo, mas construir, amar, esclarecer; e respeitar. É um abraço da existência em plenitude; responsável.

Direito de escolha como se inclinam monges e religiosos de claustros, e que afastam dissabores que surpreendem.Viver o silêncio não significa fugir do sol. Ninguém é anacoreta do nada, nem intérprete do impossível, do intangível, nem cego de muitas visões.

O sol, a luz, precisam ser vistos, a razão, agradecidas suas presenças todos os dias. Muitos querem e não conseguem, cegos não veem e muitos que têm visão fecham as janelas não permitindo sequer que o sol entre em sua sala. E um dia chega a surpresa.Responsabilidade e silêncio.

Muitas mentes perseguem a compreensão, a luz. É assim também a busca interior onde dúvidas se dissipam pela arte do encontro no desencontro da vida; o encontro do altar interior. E das verdades integrais presidida pela liberdade com responsabilidade. Aí está a responsabilidade desconhecida, com luz, sem estar mais cego.

Definida e alcançada a mínima luz, a alma se expõe ao sol das grandes verdades estando no patamar maior a generosidade que se muda em caridade e compreensão e a reverência às liberdades.

É esse o oráculo do encontro sofrido, o sol que dá vida, a luz que pode cerrar a cortina da incompreensão e trazer entendimento, fechando a cegueira material ufanista. Passa-se a entender um pouco mais nosso entorno, como quem enxerga e vive a responsabilidade de viver livre, como ser mudo podendo falar de tudo, ouvir serenamente sem retrucar, receber humildemente exaltação sem se exaltar, avaliar e mensurar, são armas do silêncio, são antídotos contra o falar sem nada dizer por desconhecer, perecer cotidianamente por nada saber, não recepcionar e desaprender por nada reconhecer. Não silenciar, não frequentar o silêncio.

O silêncio apaga a nuvem que não passa.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 01/03/2020
Reeditado em 02/03/2020
Código do texto: T6877511
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