DIA DE CARA AMARRADA

Choveu, choveu, choveu...

A enxurrada desceu a ladeira de paralelepípedo clarinha, feito água de bica.

O dia amanheceu de cara amarrada, mal humorado. Os passarinhos cantadores fazem de tudo para distraí-lo, mas nada... Não dá um sorriso de sol sequer.

Eu acordei nublada nesse dia assim. Tenho muitas nuvens de chuva por dentro. Eu sou plasmada na natureza. O tempo tem força sobre mim, assim como a lua regula as marés. Preciso do sol para arejar minha "casa". Ah! Deixar a casa de portas e janelas bem abertas para o sol e o vento entrarem, clareando a vida! Imagino que o vento tenha odores de planta e de chuva, só para refrescar do calorão... Chego à janela para constatar que: haja imaginação! Porque o tempo é daqueles de colocar a gente para dentro de casa, dentro da gente. Introspecção. Solidão. Silêncio. Escuridão. Ah, tempo, não é fácil suportar você! Sei que passará; sei que essas nuvens de chumbo serão levadas pelo vento, ou derreterão sobre a cidade. Mas a espera... Às vezes, a espera cabe um tempo sem fim dentro dela... Um martírio para mim, tão desatinada e de alma buliçosa! Continuo na cama, revirando pensamentos. Busco um pensamento bom para curar-me da neblina que envolveu-me. Fecho os olhos. Quero sair daqui, quero subir além das nuvens, porque adivinho que acima delas há um sol brilhante e lindo! Se tomasse agora um avião, ficaria curada. Se pudesse voar acima das nuvens, ficaria no céu!

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 29/02/2020
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