TRAVESSURAS DE HAYDÉE

TRAVESSURAS DE HAYDÉE

Naquela tarde de 1954, tudo parecia normal na Fazenda Baía. Parecia...

Havia chegado à fazenda um carro de boi da Fazenda Boa Esperança, que ia levar rapaduras para o comércio de Piranga. Quando chegava um carro de boi ou uma tropa para “arranchar” na Fazenda, para nós era um motivo de grande alegria, pois era uma

oportunidade para “batermos um papo” com os carreiros e tropeiros de outra região. Isso era muito comum porque a nossa fazenda ficava a sete quilômetros de Calambau e a catorze de Piranga, o que facilitava o descanso dos homens e animais.

Ao redor da trempe que o carreiro preparava o seu jantar e do candeeiro, estávamos nós, o Juquinha Pinheiro, o Raimundo Bananal e eu. Nessa hora ficávamos engolindo a seco ao sentirmos o cheiro do torresmo com feijão e farinha, que era o jantar que eles, geralmente,

faziam.

Estávamos lá, na maior tranqüilidade, quando chega o Zé Bananal dizendo que havia um “homem doido” perambulando pela vizinhança. “Homem doido” para a meninada era quase sinônimo de capeta... todos temiam. O Zé Bananal ficou por ali um tempo e depois foi para a sua casa. Era nosso vizinho.

Começou a escurecer e nós já estávamos pensando em irmos para dentro de casa. Naquela época não havia luz elétrica na fazenda. Daí a pouco, os cachorros começaram a latirem. Na direção da porteira da fazenda vinha um vulto enrolado numa grande capa. Quando vimos aquilo, foi aquela correria. Os carreiros correram em direção a um canavial próximo. O Raimundo Bananal correu em direção à sua casa que ficava perto. O Juquinha e eu corremos para a porta da cozinha. Ali chegando encontramos a porta fechada. Olhamos pra a janela que ficava a uns cinco metros de altura. Para nossa sorte havia um cano que levava a água para a casa e passava próximo à janela. Subimos por esse cano e, antes de entrarmos na casa, derrubamos uns pratos que a cozinheira Hilda deixara na janela para secarem.

Aí o alvoroço foi total. A meninada toda gritando dentro do quarto onde a Dona Cecy , a nossa mãe, já estava deitada. Nesta época eram sete as meninas nossas irmãs. Quando ouviu a gritaria a nossa mãe começou a rezar:- Sagrado Coração de Jesus, o que está acontecendo? Mal acabou de perguntar o vulto já estava entrando no quarto. Eu, morrendo de medo, pulei em cima da cama, peguei a carabina que o papai deixava pendurada num cabide afixado na parede do quarto. A carabina nunca ficava desarmada, mas era só armá-la que a bala ia para o ponto. Foi o que eu fiz. Na hora de acionar o gatilho, a pessoa que esta sob a capa descobriu o rosto.

Quem poderia ser? Isso mesmo, a Haydée. Ela ficou sabendo sobre o homem doido e quis nos meter medo. Combinou tudo com as moças que trabalhavam na casa, as quais lhe abriram a porta da cozinha...

Depois de tudo acalmado veio a bronca da Dona Cecy:- Ô Haydée, você me mata do coração!

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau /março/ 2007

OS.: A Haydée é filha dos tios Letícia e Tião. Embora tenha morado em Mato Grosso (Dourados) e mais tempo em Brasília, nunca se esqueceu dos parentes e amigos de Calambau .Sempre vinha até aqui matar a saudade. Era a alegria em pessoa, onde estava contagiava a todos com a sua maneira de ser feliz.

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 28/02/2020
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