Indecisões, o que eu carrego na mala?

O acúmulo é inevitável

Juntando papéis, resto de roupa, memórias esquecidas, quentes lembranças e sentimentos distantes - junto com mais dez mil coisas que por si só não chegaram nem perto de se tornarem uma única matéria. Minha mala é bem pequena comparada com algumas, mas mesmo assim pode carregar um tamanho de coisa chegando no seu limite máximo ou no mínimo de uma complexidade ainda assim singular a dos outros.

Me fazendo chegar a conclusão de que cada um tem às suas bagagens, podem e tentam carregá-las da melhor ou pior forma que existe. Sendo capazes também de carregar lixos, acúmulos desnecessários, sentimentos possessivos, desprezos, desejos e frustrações. O que você mantém na sua mochila vai dizer muito sobre você.

O que eu mantenho dentro da minha, talvez me ligue a um tipo de pessoa desconectada a todos e tudo. Na mesma medida em que me sinto ligado, também vejo o botão ou o sinal de partida. Mas lá no fundo eu me pergunto se sou uma pessoa destinada a carregar fardos e sentimentos pesados por tanto tempo.

É aí que eu acho que começar a esquecer me faz de uma pessoa totalmente desligada e aparte de tudo a minha volta. É claro que não dá para relativizar tudo, mas negar que isso seja impossível e de que isso não esteja em acesso para outras pessoas é mais cabível aceitar que se esquecer também é se encontrar.

E como não posso me esquecer ou me lembrar de tudo, acabo vivendo em cima do muro. Com uma parte que - ao mesmo tempo que procura, se esquecer e se sente perdido ao tentar se lembrar. São dois lados de uma mesma moeda e ambas se encontram dentro da mochila. Me pergunto se um lado não deve pesar mais do que o outro e se eu realmente deveria descartar algum deles.

Mas ainda assim, devo evitar o acúmulo desnecessário. Não quero andar com a mala cheia. Somente o necessário deve ficar, somente o que se vive no agora. Mas confesso que não tenho certeza do que mantenho dentro dela. Ao mesmo tempo que vejo que posso guardar tanta coisa, me julgo por temer manter só o essencial sem pensar no futuro.

Numa mala cabe tantos sonhos. Sonhos que se eu não cultivar, podem acabar se tornando frustrações, desejos não realizados, medos em forma de angústia, dores que se misturam com esperança e agora é tudo uma doce ou amarga lambança.

Devo cultivar e saber o que plantar. Devo ter certeza do que carrego sobre as costas. Devo tanto sem dever nada. Mas essa mocinha ainda assim continua pesada. Se eu não me esquecer que tenho que carregá-la, terei que todo dia lembrá-la.

Indecisões, ainda às carrego nas mala.

iaGovinda
Enviado por iaGovinda em 28/02/2020
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