Fé, muita fé

Numa época da minha vida quando tudo parecia bem difícil: filhas em idade escolar, mãe adoentada, grana curta... sai do trabalho me sentindo cansada e muito entristecida. No ônibus, uma senhora sentou-se ao meu lado. Acho que minha tristeza estava tão evidente que ela puxou conversa comigo. Mesmo querendo ficar quieta com minha sofrencia, dei atenção a ela.

O papo se desenrolou e ela fez a observação: "tu parece tão triste, tem alguma coisa te afligindo?" Aí abri um pouquinho a guarda. Ela então me disse que eu me acalmasse, que Deus estava comigo. Se eu quisesse ela me levaria na igreja que ela frequentava e tinha certeza que eu sairia de lá bem melhor.

Qual a sua igreja, perguntei. A Universal, respondeu ela. Ah sei, agradeço a sua preocupação, mas eu frequento a igreja Católica. A senhora insistiu um pouco, como quem diz: pela sua tristeza a sua igreja não está lhe ajudando muito. Mas me mantive firme. Quando descemos do ônibus, a senhora deu mais uma insistida mostrando onde ficava sua igreja.

Aquela senhora não sabe, mas nossa conversa serviu para me reconduzir a minha igreja, de onde estava meio afastada fazia tempo. Desculpas não faltavam para deixar de ir a missa e participar da vida da comunidade, mas voltei devagarinho, chorando muito pelas minhas tristezas e ao mesmo tempo me alegrando pelo conforto de estar ali.

Na missa de ontem dando início à Quaresma, que serve para nós cristãos católicos como o período de reflexão e preparação para a Páscoa de Cristo Jesus, quando o padre falou sobre a Parábola do Bom samaritano lembrei dessa senhora e também dos tantos amigos, colegas e conhecidos que tive e tenho, de diversas religiões e até pagãos, cuja relação de respeito, compreensão, carinho e amor só somaram na minha vida.

Lembrei também de uma “máxima” da minha mãe que diz “filha a gente tem que se dar bem com as pessoas porque nunca se sabe de onde vem a mão estendida para nos auxiliar.” Trago isso comigo, não com uma possibilidade de rebaixamento ou menosprezo, mas como uma esperança de encontrar num outro ser da minha espécie algo que nos faça crescer em sabedoria de vida, no saber que a vida que Deus nos deu é pra ser vivida em harmonia.

No mundo de hoje, com toda essa quantidade de informações na velocidade da luz, sinto que minha Quaresma terá que ser muito mais reflexiva, pois esta difícil discernir o quanto de respeito, compreensão, carinho e amor anda rolando por aqui, por lá e acolá, que possa ser somado para a construção da minha vida cristã.

O tema da Campanha da Fraternidade 2020 é - Fraternidade e Vida: dom e compromisso, que tem como lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. Dele quem, hão de perguntar. Partindo de mim, tenho compaixão, cuido do outro e, consequentemente, essa relação de mútuo cuidado atingirá mais pessoas, as famílias, a comunidade, a sociedade e o planeta. Simples assim (refrão usual nos dias de hoje), porém...

Vou rezar, rezar muito para que, nós católicos e meus amigos, colegas, companheiros, conhecidos de todas as religiões e os pagãos encham seus corações de compaixão e cuidemos, de nós e dos outros, por um mundo melhor, na paz de Jesus Cristo!

Haja coração, e mente

Fé, muita fé

Tânia França
Enviado por Tânia França em 27/02/2020
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