GARI

Era escura a pele da morena que de clara só tinha o nome: Maria Clara, 34 anos, profissão: gari

Sete horas e o pequeno ônibus com o emblema da prefeitura municipal estaciona na esquina da rua das hortênsias. Descem homens e mulheres que iniciarão o trabalho braçal de limpar as ruas e calçadas do bairro das flores. Inicia mais um dia de trabalho árduo, onde o sol escaldante é afastado com o uso de chapéus e muita água.

O temperamento alegre de Maria Clara faz com que a atividade torne-se mais leve contagiando com isso seus colegas que trocam piadas e riem, enquanto transeuntes apressados passam desviando a poeira que toma conta das calçadas. Com a vassoura na mão a gari parece varrer para os ares as dores e os problemas, enquanto lembra dos quatro filhos, todos pequenos. As duas meninas, cuidadas pela vizinha e os dois meninos que ficam na escola em turno integral. Procura manter a sua vida sob controle desde a morte do marido, consumido pelo álcool, há quase um ano.

Como mãe e pai procura dar às crianças um pouco de conforte e muito esperança. Esperança de um porvir melhor que o pequeno chalé de dois cômodos, no qual acomodam-se em dois beliches seus filhos, único tesouro deixado pelo marido bêbado, morto antes da aposentadoria.

Para a morena brejeira nao existe tempo ruim, nada lhe tirando o sorriso do rosto. Sorriso esse que atraia olhares, que encontravam na alegria da gari um lenitivo para superar o cansaço do dia a dia de trabalho.

E assim o tempo passa, até o dia em que a Maria Clara distraída e com o pensamento distante, estampando o costumeiro sorriso, é surpreendida pela presença do pedreiro Ruberval, o qual não resistindo ao sorriso da morena, ousa uma aproximação e taca um beijo no rosto da gari, em plena rua, em pleno horário de trabalho.

Nesse dia a morena volta acompanhada pro chalezinho, que com a ajuda de Roberval, certamente passará a ter mais de dois cômodos.

Maria Clara sorri. E tem a certeza do poder de seu sorriso...

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 27/02/2020
Reeditado em 29/02/2020
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