Um Roqueiro no Carnaval
Meu look do carnaval não teve nada de inovador. Tênis preto, bermuda surrada, camisa do Foo Fighters e nada mais. Sentei na esquina, pedi uma cerveja e fiquei resenhando sobre a pluralidade desta que é uma das mais antigas manifestações da humanidade. Egípcios e hebreus já celebravam as colheitas, os romanos realizavam os saturnais em homenagem ao deus da agricultura, Saturno. Nesses eventos homens e mulheres saiam nus pelas ruas da cidade nos predecessores dos atuais carros alegóricos chamados de carrum navalis.
Já tratei acerca da diferença entre entretenimento e cultura antes e a comparação se aplica ao carnaval. A sensação da capital morena foi o circuito mangueirosa que trouxe o carimbo chamegado de Dona Onete, a guitarrada de Félix Robatto, o batuque do Bando Mastodontes, o tecnobrega de Keila e inúmeras outras atrações, lotando o complexo Ver-O-Rio. Sem falar dos desfiles das escolas de samba na aldeia cabana e dos blocos que deram colorido às ruas de Belém e seus distritos.
Como espectador pude perceber que os pierrots e as columbinas dos carnavais de salão de antigamente deram lugar a coringas e malévolas, princesas Disney e heróis da DC e da Marvel, ou seria Disney? Famílias inteiras levaram até os pets para a avenida, devidamente caracterizados. Abriu-se espaço para a inclusão também. E o lema do carnaval foi “Não É Não”! Nesse encontro teve lugar pra todo mundo, inclusive católicos e evangélicos que se reuniram em retiros espirituais na capital e no interior do estado.
O carnaval por aqui teve alerta sobre a preservação ambiental no bloco “Pretinhos do Mangue” que há mais de 30 anos diverte o povo em Curuça. As Vigienses e os Cabrasurdos de Vigia mostraram com irreverência que gênero não se discute, cada um sabe o seu. A banda Legião Urbana figurou entre as atrações da mixórdia musical de Cametá. Na praia do Caripi, localizada no município de Barcarena forró eletrônico e sertanejo universitário deram o tom da festa aberta ao público.
Aqui por Abaetetuba preferi acompanhar o bloco das virgens, um pouco mais tranquilo para quem não cai no samba, mas se rende ao gingado da morena iluminada. Nesse momento deixamos para amanhã os problemas do país, dentre eles o desemprego ainda em alta e na proliferação dos subempregos, os recordes do dólar na bolsa de valores, a reforma administrativa que mutila o funcionalismo público e tantos outros, para vivermos alguns instantes de alegria. Afinal, tudo acaba em samba e nós sempre dançamos mesmo...