COMPREENDENDO ÀS SUPERSTIÇÕES DO MEU AVÔ.
Nasci na década de noventa, finalzinho do século XX, entretanto, no interior, ainda subdesenvolvido; meu pai chamava "fim de mundo". Fiquei muito tempo intrigado, desavindo com os " não pode" do meu avô.
- no carnaval: rapaz solteiro não pode sair de casa, pois Deus castiga não trazendo de volta como saísse; moça , jovem, ainda pura, não se pode ouvir o rádio, muito menos assistir TV, no entanto, se assombrará da sombra, ficará insana.
Era uma semana vazia, só jejum, sem rádio, sem poder ir à casa das primas, uma privação total de liberdade e que tinha que ser cumprida, caso contrário, uma surra seria o remédio para tal desobediência.
Não me incomodava tanto, sempre fui caseiro, mas, meus irmãos e meus tios ficavam perturbados. Quando eram percebidos, minha vó, muito viva, puxava novenas à noite distraindo e esquecendo o querer de sair de casa.
Uma sabedoria culta, inteligência natural das coisas e, com isso, todos estavam desviados dos maus caminhos.
Atualmente, depois de mais de vinte anos da morte de meu vô e minha vó, assistindo os jornais na TV, ouço a lista da PF, na operação "Abre Alas", contabilizam-se 22 mortes, além dos casos de DST´s, gravidez precoce... Me vem à cabeça, a lembrança dos meus antecessores, saudade e emoção ao lembrar como seus simples "NÃOS", que nos deixavam irritadíssimos salvaram nossas vidas, toda aquela família hoje está se cumprindo o ciclo da vida: nascer, crescer,reproduzir-se, envelhecer e morrer.
Enquanto que as novas gerações, suas famílias, alguns já se partiram na volta de um carnaval, num parto prematuro, onde uma criança quer ter outra, após anos de lutas contra a AIDS, etc.
Será que vale a pena sair no carnaval? Assistir TV e pôr tudo em prática? Será que os conhecimentos teóricos, estudados na escola valem mais que o domínio familiar? Que a desobediência traz a felicidade ao realizar seus desejos?
Sinto falta dos meus avós!
Muita mesmo!
A ponto de temer como repassar esses ensinamentos numa atualidade em que não se acredita em Deus!
Hoje entendo perfeitamente o real significado, mas, eu fui obediente, respeitei a quem tinha experiência de vida. Os novos não procuram e nem dão atenção a testemunhos, só acreditam vendo, o que é muito triste e, o pior; pode ser salvo por uma simples superstição!