PRECONCEITO E O PRECONCEITUOSO.PERMANÊNCIA CONTINUADA .

Muitos que alardeiam preconceito (negativo, pois pode ser positivo ou negativo) são os mais preconceituosos. Quer dizer, a vítima é originariamente preconceituosa quanto à condição que entende diminuí-lo. Lamenta-se, mas é realidade.E não há culpa nisso, é embrionário.

Ensinava Voltaire que dois terços da humanidade não pensava, aparentemente sem alma; diria eu, sem capacitação, se movimentam quase por instinto, não valoram , seguem como manada, se deslocam. É o que vemos principalmente no velho repositório ideológico.

E seriam, é condicional, alguns, pessoas preparadas. Difícil encontrar nessa grei um Ferreira Goulart.

Um fato marcante ocorrido com o atual Presidente, então deputado, com jornalista que o entrevistou faz algum tempo, indica o preconceito originário que causou polêmica na época. Isso indica o que abordo.

Quando se pergunta se um pai deixaria um filho casar com uma pessoa da raça negra, como indagado pela jornalista então, por qual razão não se perguntar: você deixaria seu filho casar com uma pessoa da raça asiática, ou descendente indígena, ou da raça ariana máxima em brancura de pele como a nórdica, ou com pessoa de credo diferente do seu entre os vários credos, judeus, evangélicos, ortodoxos, católicos, protestantes, testemunhas de Jeová, adventistas, protestantes, ou com membros de conhecidas comunidades e sociedades fechadas, como a maçonaria? E tantas e tantas outras indagações específicas que poderiam ou não trazer intimidação ou embaraço para os perguntados.

Ninguém considerou que a pergunta na sua origem já trazia consigo a marca da pejoração, o preconceito de cor. Sabia qual resposta receberia. Isso se trata de um conceito embrionário prévio, o chamado preconceito, que pode ser bom ou não. Preconceito tem um núcleo objetivo, que pode ou não ser discriminatório. Neste reside a inferiorização do que ou quem se considera; discriminação.

Nessa crônica “O fascismo do bem”, o conhecido jornalista Ricardo Noblat, coluna de “O Globo” , discorreu sobre o deputado tão decantado (antes de eleito presidente), Bolsonaro, e dizia: “Ele é um símbolo, uma síntese do mal e do feio. É um Judas para ser malhado"; bom de dizer nestes dias de tanto carnaval religioso em muitas escolas, fato indiferente ao que está secularmente estabelecido.

Difícil é, discordando radicalmente de cada palavra dele, defender seu direito de pensar e de dizer as maiores barbaridades, dizia Noblat.

E considera que para ser a favor ou contra qualquer coisa, deve se firmar em que todos têm o direito de se expressar, sem o que, perde amanhã o direito de dizer o que pensa.E vai além, “a patrulha estridente do politicamente correto é opressiva, autoritária e antidemocrática. Em nome da liberdade, da igualdade e da tolerância, recorta a liberdade, afirma a desigualdade e incita à intolerância.”

E continua dizendo ser a favor de tudo que o deputado é contra, e “por defender o direito de ser a favor é que defende o direito do deputado ser contra.”

Faltou a especificidade científica-profissional da lida com o direito. "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.", ensina Voltaire; mas acresço o que faltou, até os limites da lei. Pelos excessos se responde nos tribunais.

O direito de se dizer o que se pensa tem um limite, a lei. Sem descer a detalhes do tipo objetivo penal ocorrente, e se ocorreu ou não nesse contraditório que a mídia frequentou à época, se houve injúria ou discriminação racista, crime de racismo, e o principal, se há objetividade contrariada na conduta discutida, vejo um fator mais adensado e, creio, pouco percebido, o que externei ao vestíbulo em consideração ao ensejo. A pergunta conhecia a eventual resposta e preconceitos do perguntado em matérias conhecidas.Então a pergunta era preconceituosa....

"quando respondeu promíscuo, quis dizer "pessoa de hábitos negativos em valores sociais tratados", é inegável.Esse o epicentro da resposta. E definiu que essa aderência negativa era o meio da questionadora. A questão é semântica e simplória. Os conceitos são bons ou não, virtude ou inexistência de virtude, o bem e o mal, eterno pêndulo da vida; obviedade flagrante. Promíscuo é negatividade. A virtude não permite discriminar. O que significa discriminar? Se formos aos dicionaristas convencionais, sem necessidade de ir ao Aulete, Cândido de Figueiredo, Moraes, etc, os clássicos, veremos que discriminar é conceito negativo, “verbis”, in Houaiss, contemporâneo que reputo o melhor, fls. 1053, “tratar mal ou de modo injusto, desigual, um individuo ou grupos de individuos, em razão de alguma característica pessoal, cor da pele, classe social, convicções..”.

Só é necessário visibilizar que a pergunta já trazia em seu bojo a discriminação, o preconceito negativo que evidentemente eclodiria...como eclodiu então.

Continuam essas intenções na voga de nossos dias. Os atingidos por preconceito discriminatório dão azo a essas discriminações. A imputação passeia nas mentes pouco aparelhadas. Não situo casuísmos, vejo-os nas asas da desvirtuação, e principalmente em meios acadêmicos, o que ressuma pior, poreja de mentes como urticárias dermatológicas. No carnaval, pode-se dizer, houve a festa da livre expressão, cada um veja como quer, de intolerância e discriminação.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 25/02/2020
Reeditado em 25/02/2020
Código do texto: T6874120
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