DÁDIVA DA NATUREZA.
No horizonte o sol apareceu, erguendo-se lentamente sobre o firmamento, faiscando nas poucas nuvens desavisadas seus tons de laranja e vermelho. Eu estava a caminho do trabalho, parei ao lado de uma mureta para observar o nascer do astro do dia. Seus raios primeiros ganhando força, se arrastando pelas montanhas até atingir a planície. Os inúmeros pássaros na copa das árvores fazendo festa, brindando com sua melodia o alvorecer que se iluminava majestosamente. A natureza despertando cheia de vida e de beleza. Os Homens - talvez a parte menos importante dessa pulsante pintura - aos poucos aparecem, correndo em seus veículos velozes pela avenida. Indo e vindo, apressados em chegar no trabalho. Semblantes carregados, poucos percebem toda a beleza que os cercam. A maioria, no entanto, está cega pela modernização escravista, acorrentados em seus aparelhos móveis, dedos ávidos em teclas virtuais, ocupados demais para perceberem quantas riquezas existem ao derredor, os brindando nos primeiros momentos de silêncio de todas as manhãs. Logo o dia vai ganhar força total, o silêncio que passa sobre tudo dará passagem para mais um dia barulhento. O ser humano, escravo de seus próprios desejos, 'desejando' tudo e não tendo nada, sempre vazio de si mesmo. Enquanto isso, a natureza pulsa forte diante de seus olhos.
Continuei observando o horizonte, hipnotizado com tamanha beleza, até que, outra peculiaridade da natureza roubou a atenção de meu olhar. Ainda sentado na pequena mureta, percebi que um pouco acima da minha cabeça, na quina de uma parede com outra, havia um aglomerado de teias de aranha, devidamente desenhadas em um bonito e pequeno formato de rede. Em uma das extremidades da rede estava um pequeno mosquito que acabará de se prender, tentava soltar-se, esforçando-se para desgrudar as asas da traiçoeira teia, mas, a cada movimento, tão mais preso ficava. Na outra estava a aranha, que, lentamente, perna por perna, aproximava-se de sua desavisada vítima. Desesperado com o aproximar de seu algoz monstruoso, o mosquito tentava enlouquecidamente se soltar, era inútil. A aranha cada vez mais perto de sua presa, a presa, cada vez mais perto de sua morte, os grandes olhos da mosca viu refletido as pequenas a venenosas mandíbulas do aracnídeos. Em um rápido salto por cima do inseto moribundo, mobilizou-o por fim em um feixe de teias poderosas, levando-o para as profundezas de sua morada sombria.
A natureza é bela até em seus pequenos detalhes, por fim, vendo que meu horário estava já apertado - pois estava eu a caminho do trabalho - levantei-me da mureta e segui caminhando, refletindo no que acabará de acontecer. A certo ponto mais a frente, onde fica uma pequena estação de tratamento de água, deparei-me com outra, 'digamos', pintura da mãe natureza. Essa, 'estação de tratamento', com uma grande caixa de água que abastece determinado bairro, devidamente cercado, não pode deter certo invasor, que, naquele exato momento, repousava tranquilo no alto de um cupinzeiro. A cabecinha erguida, olhando com curiosidade para todos os lados. Encantado, parei por um minuto para observar aquela pequena lagartixa. Certamente que a natureza nos surpreende a cada minuto, basta uma breve e pequena observação para notarmos quão rica a natureza é em face de nossa miséria de espírito. Infelizmente o mundo moderno não encontra tempo o suficiente para ver o que é 'belo', distraem-se com sutilezas vãs, tendo olhos mais não vêem, e tendo ouvidos mas não escutam. Enquanto a natureza continuar bela e forte, este cronista sempre terá olhos para contemplar tanta beleza.