ESTE PAPO

ESTE PAPO

22fev20

É meu mano Caetano, me lembro de você no começo da tropicália. Fui ver seu show no Francisco Nunes, você com seu jeito de sem jeito, cabelo grande, enrolado e parecendo mal lavado, um riso enrustido de quem nada quer. Naquela época caminhavas contra o vento, sem lenço e sem documento nada nos bolsos ou nas mãos. Nos teus sonhos tudo era apenas uma brincadeira. E foi crescendo, crescendo, te absorvendo e de repente... tu achaste que serias mais feliz?

“Quando o seu mundo era mais mundo, todo mundo admitia uma mudança muito estranha. É preciso voltar com mais pureza, mais carinho mais calma, mais alegria...”

Mas teus bolsos se encheram e mexeu qualquer coisa dentro, doida. Doida foi a tua fala sobre este pais que primeiramente reconheceu teus dotes de poeta e sem nenhuma licença poética tu mentiste descaradamente em inglês e para quem fala inglês ver. Que Brasil é este do qual falaste, fruto de um delírio psicodélico de algo que te levou para lá de Marrakesh. Para você o sol se repartiu em crimes e guerrilhas.

E foi pensando naqueles que de nós tudo roubaram e que com o nosso dinheiro te subsidiaram e que foram definitivamente expurgados destas terras de meu Deus que você berra pelo aterro, pelo desterro. Berra por seu berro, pelo seu erro. E quer que a besta ganhe e que te apanhe. Você só é um bezerro gritando mamãe pelas tetas que secaram

Esse teu papo tá qualquer coisa e você tá pra lá de Teerã!

Caetano te retrate e desça desta espaçonave pois, amanhã, redobrada a força pra cima que não cessa, há de vingar. Amanhã, mais nenhum mistério, acima do ilusório o astro-rei vai brilhar. Amanhã, a luminosidade alheia a qualquer vontade, há de imperar.

Caetano, não se avexe não, baião de dois. Deixe de manha, 'xe de manha, pois sem essa aranha, sem essa aranha, sem esse papo de aranha! Nem a sanha arranha o carro, nem o sarro arranha a Espanha.

Meça: tamanha besteira que fizeste! Meça: tamanha!

Esse papo, já tá de manhã!

Que Oxum através de sua filha Mãe Menininha do Gantois, te mande a luz que hoje te faz falta.

Geraldo Cerqueira

Com trechos das letras de Caetano Veloso: Qualquer Coisa- Alegria, Alegria – Amanhã – Sonhos

Geraldo Cerqueira
Enviado por Geraldo Cerqueira em 22/02/2020
Reeditado em 25/02/2020
Código do texto: T6872118
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