Sem auto perdão.

Falhar com o próximo. Sempre foi esse o pior dos meus medos. Não é de ladrão, não é de morrer e nem de assombração. Dentro de mim tem tantos sonhos que não consigo mensurar. Sinto um pouco de paz, mas depois vêm ébrias as tormentas mais profundas do meu coração. Por que criam tantas expectativas em torno de mim? Por que meu sorriso não consegue aplacar todo o mal que se espalha no planeta como ervas daninhas? Me sinto só. Me sinto ausente de mim mesma. Meus pés tocam o chão, mas o chão teima em se abrir diante de mim e caminho, anestesiada, sem medo de cair. Assisto ao impacto das minhas falhas na vida de pessoas que eu nem sequer conheço como o reverberar da famosa batida de asas de uma borboleta a quilômetros de distância deles.

Falhei. Desapontei. Culpar-me não resolve os problemas que eu criei. Peço ajuda e a ajuda não vem. Tenho limitações que ninguém ousaria supor haver em mim. Mas elas existem como um borrão ou um grito de desespero. Subo ao ar, só pra não tocar o espaço abissal embaixo dos meus pés, pois é no céu que mora meus sonhos, meu ser mais puro. Por vezes me pego invigilante clamando a Deus pra entregar a missão. Peço a Ele de olhos cerrados e em lágrimas sinceras pra me tirar daqui somente pra eu parar de ver tanto sofrimento em mim e no meu próximo, nos meus irmãos. Mas, eu falhei e alguém que sorria mudou o tom de voz diante ou distante de mim e isso me afeta tanto que não consigo segurar o pranto que vem inadvertidamente. Errei e para todo pecado existe perdão, principalmente minhas falhas mais simples e mais ridículas.

Todos aqueles aos quais devo perdão, não saberão. Não saberão que dói a espada desferida neles em formato de palavras e gestos. Por trás do meu sorriso uma vontade forte de me esvair no som dos ventos e nos raios da manhã. Leves. Tênues e breves. Quem sabe um dia eu seja um raio numa tempestade, desaparecendo com a mesma força na qual surgi. Quem sabe um dia Deus possa me ouvir e arrancar de mim a minha própria história e dar-me uma nova página em branco na qual eu possa escrever uma versão melhor de mim.

22 de fevereiro de 2020.

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 22/02/2020
Reeditado em 22/02/2020
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