ESTÓRIAS CARIOCAS ACRONOLÓGICAS - PARTE XIV

1---Berço da boemia e da Rádio Nacional, a ZONA PORTUÁRIA (praça Mauá e adjacências) reúne estórias de décadas... Era uma região imensa e acompanhava os contornos da Baía de Guanabara (origem tupi 'Iguaá M-bara' - enseada do rio ou enseada semelhante ao mar ou mar do seio pelo fomato arredondado e fartura de pesca), estendida da Glória (início da zona sul, parte nobre da cidade, nome por causa de igreja fundada no século XVIII) até o fim do bairro do Caju (muitos cajueiros no local), destacando-se a Praça XV, na época chamada Praia da Polé - alguns trechos dessa orla ganharam maior importância. Área alagadiça que margeava os morros de São Bento e da Conceição e se estendia ao atual bairro de São Cristóvão. O ponto crucial, a Prainha, foi a principal porta de entrada de suprimentos (matéria prima). Muitas mudanças até virar Praça Barão de Mauá (pioneiro da industrialização brasileira, tempo do Império), novos contornos concluídos em 1810, ponto de confluência de marinheiros e turistas, aventureiros e palco de manifestações populares. Prainha, grande aterro concluído em 1911, quando então surgiram os armazéns do cais... e bem mais tarde área escolhida para 'abrigo' do primeiro arranha-céu da América Latina, o prédio do jornal A Noite, onde funcionou a Rádio Nacional, símbolo de uma cidade que ditava moda para o país; perto dali, a Pedra da Rainha, posteriormente chamada Pedra do Sal, principal entrada de quase um milhão de escravos (tudo isso?!) chegados em navios negreiros (grande número de negros sudaneses vieram da Bahia), a seguir um mercado de escravos e moradia para trabalhadores da estiva. --- A chamada "Pequena África" viria futuramente a ser o berço do samba, onde ainda hoje pulsam a boemia e o samba. --- As reformas urbanas do prefeito Pereira Passos demoliram cortiços e deslocaram a população pobre da região central para as encostas dos morros da região (eta, feliz povo persistente e jamais enganado!), entretanto crescimento desordenado, início do processo da favelização, na época já preocupante - junto à Praça Mauá, prevaleceram obras e vocação mercantil, também pequeno edifício da Estação Terminal de Passageiros do Porto, a torre em estilo medieval e belos vitrais interiores; em frente, a Rodoviária Mariano Procópio. Movimentação contínua no início do século XX - trabalhadores de dia e ao cair a noite a hora dos cabarés-danças-prostituição (verdades de um Rio sem censura, tá?) - não local exatamente perigoso, com pequenos roubos e contos-do-vigário (golpes de malandros espertos). O sagrado era representado pelo barroco Mosteiro de São Bento. --- Praça Mauá, hoje atraente (não traída) com festas, festivais de música, desfiles e exposições - dois símbolos de ordem: Polícia Federal e Arsenal da Marinha. --- A construção da avenida Presidente Vargas, 1940, e do viaduto da Perimetral, 1970, isolou a antiga faixa litorânea, que entrou em decadência - desde 2011, estudos de revitalização do local: renovação do patrimônio arquitetônico e recuperação de espaços ociosos.

2---A era do rádio... RÁDIO NACIONAL - Prédio do jornal "A Noite", inaugurado em 1930, início da era de arquitetura, inspirada em modelo norte-americano, oposição ao europeu - conceito de "skyline" no centro da cidade. (Ao início da década de 30, o escritório de Lúcio Costa e Warchavchik recebeu ali o estagiário Oscar Niemeyer.) Vinte e dois andares, correspondendo a trinta de um prédio moderno, devido ao pé-direito alto, a cento e dois metros de altura. A maior construção estruturada em concreto armado na época, art-déco na area externa, bem como internas de uso comum, com o tempo desfiguradas por reformas. --- "Alô, alô, Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de Janeiro." - 12 de setembro de 1936, a emissora mais influente do Brasil, que atraía multidões para programas de auditório e conhecer ao vivo os ídolos, cantores, atores e humoristas de sucesso, radionovela como "O direito de nascer" e programa "Balança mas não cai". --- Projeto arquitetônico do francês Joseph Gire (autor também do desenho do Copacabana Palace), associando o poder econômico de empresas já ali instaladas (Philips, Pan Am, agências de notícias La Prensa e United Press Association) ao 'glamour' do então mais poderoso meio de comunicação; sede de multinacionais e consulados (States, Canadá), concorridos restaurantes no térreo e no andar superior, pela vista da Baía de Guanabara. Desde 1997, ali a sede do Instituto Nacional de propriedade Industrial (INPI). Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2013, considerado prédio emblemático, tanto pelo aspecto estrutural como pela importância histórica (significado cultural) /// Mas nada material é eterno. Pichações, infiltrações, rachaduras. Sem energia elétrica e logicamente iluminação. Fachadas e áreas internas em estilo déco, embora com tentativa de reinauguração da Rádio Nacional em 3/julho/2014 (auditório, estúdios de rádio e teatro), novo fracasso, edifício vazio e decadente, péssimo estado, anos com falta de conservação despercebida por cariocas e "otoridades" do governo - evidente contraste com os novos prédios ao redor. Revitalizada, a Praça Mauá mostrou ao mundo os museus do Amanhã e de Arte do Rio (MAR). O destino do Edifício A Noite poderá ser definido, quando representantes do INPI, dono do imóvel, teve importantes reuniões em... Brasília......... e dois investidores (um brasileiro, um estrangeiro) propuseram criar um hotel ou prédio residencial de luxo. Novo "capítulo": anúncio da venda do prédio em 2016, ideia descartada meses depois. Bom, vamos ver a história virando estória......... --- Muita gente visita a nova praça, inaugurada em 6 de setembro de 2015, e tira fotos do prédio, outras pessoas o tirando de foco.

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LEIAM meus trabalhos Estórias cariocas sem cronologia (Valongo) e Qual das duas era a "maior"? - Parte III.

NOTA DO AUTOR:

Lenda ou não, a eterna implicância divertida entre Rio e São Paulo. (Afinal de contas, qual das duas cidades é "a maior?"). Disputa sobre quem teria o edifício mais alto? Giuseppe Martinelli acrescentou mais andares ao seu arranha-céu na capital paulista e ganhou a parada.

FONTES:

"Porta de entrada para o Rio" - Rio, revista Nós da Escola, n. 42/06 --- "Novos rumos para o Edifício A Noite" - "Edifício A Noite, o ostracismo perto do fim" - Rio, jornal O Globo, 26/9/15 e 20/5/18.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 22/02/2020
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