O CORONÉ E A BALA

Nos antigamente, quando o coronelismo imperava no Nordeste do Brasil, era muito comum “o dono de gado e gente” (como caracterizou Geraldo Vandré), mandar e ai daquele ousasse desobedecer.

Eram os coronéis da Guarda Nacional, título que se comprava para dar um quê de autoridade àqueles que tinham dinheiro e desejavam notoriedade entre os membros da nobreza chula, sem sangue azul nem sobrenome de ancestrais notáveis.

Os tempos passaram, a guarda nacional foi desfeita, as pessoas adquiriram conhecimento, estamos na era do zati-zapi onde tudo que acontece todo mundo fica sabendo na mesma hora, mas há aqueles que, arraigados ao passado, se mantêm fies à velha prática na ilusão de que todos reconhecerão os seus “direitos inalienáveis de mandar e ser obedecido”.

Devido a problemas de remuneração que não cabem nessa crônica, está havendo o maior arranca rabo entre o governo cearense e seus policiais.

Entre xingamentos e ameaças o que mais se nota é a falta de diálogo entre as partes.

Um não ouve o que o outro tem a dizer e as promessas, de ambas as partes, não estão sendo cumpridas.

Cid Gomes, membro de tradicional família cearense da cidade de Sobral, ex-governador e atual senador pelo Estado, conhece de perto todas as mazelas da conturbada relação entre governo e funcionalismo, mas deixando de lado sua influência como negociador privilegiado, possivelmente para influenciar a decisão das urnas nas próximas eleições para a prefeitura da cidade onde o irmão dele, se não é candidato a reeleição deve apresentar um substituto manipulável, achou melhor exercer seu lado coronelista partindo para as ameaças caso não fosse prontamente obedecido.

Montado numa retroescavadeira partiu para o confronto, abalroou o portão do quartel onde estavam aquartelados policiais e seus familiares, numa clara demonstração de salve-se quem puder porque eu vou passar por cima.

Diante da explícita tentativa de homicídio contra as esposas e as crianças presentes, não restou outra alternativa aos policiais, se não alveja-lo no meio do “pega pra capar”.

Duas balas e a valentia do coroné foi parar a UTI.

Podia ter morrido, as balas podiam ter sido no cabeção dele, mas o cabra era ruim de pontaria e os tiros pegaram no tórax...

E ainda há quem seja contra a arma de fogo, o objeto mágico capaz de igualar forças.