JANELAS ACESAS
Ao cair da noite, as luzes se acendem na maior parte das sessenta janelas, que durante o dia exibiam os movimentos usuais do cotidiano. Mas, ao anoitecer, os dramas, as imagens e os espetáculos mudam, se transformam, têm um maior número de personagens. São como sessenta televisões de cinquenta polegadas ligadas ao mesmo tempo e apresentando programas diferentes.São dramas, risos, movimentos inócuos, às refeições, assistindo aos programas de TV, gente que sonha, conversa, lê, estuda, apaga a claridade dos quartos com grossas cortinas para suas atividades confidenciais, uma verdadeira roda viva. E as sessenta janelas vão desfilando paulatinamente suas histórias e estórias, sorrisos e lágrimas, vida e vida, até que a noite termina e, pouco a pouco, as luzes vão sendo apagadas e os olhos vão se fechando até que o último suspiro não se faça mais perceptível para quem, como eu, se vê diante de sessenta filmes da vida real se desenrolando bem alí, no edifício da frente.