O DILEMA DA PROFESSORA

A professora Laura sempre se preocupou em dar o melhor de si como uma boa professional da educação. Esmerava-se em preparar uma aula perfeita. Seu perfil dedicado era notório. Costumava dizer que em primeiro lugar na sua vida estava a família e depois o trabalho.

A mestra tinha uma trajetória profissional considerável. Sua experiência vinha do ensino fundamental a pós-graduação. Era querida pelos alunos. Podia constatar tal fato por ser sempre homenageada nas solenidades de conclusão de curso e também pelas boas notas recebidas nas avaliações realizadas nos finais do semestre para averiguar o desempenho do professor.

Os alunos a chamavam de mãezona por se preocupar com cada um em particular. Maleável quando era necessário e rígida quando preciso fosse. Tinha a preocupação de ensinar/ aprender. Considerava isso via de mão dupla. Escutava os alunos acerca de seu método de ensino e estava aberta para atender suas expectativas desde que fossem viáveis.

Comentava com orgulho que em seus muitos anos de profissão nunca deixou a turma esperando pela professora. E dizia em tom de brincadeira. Quando eu for adoecer aviso antecipadamente. Esperava que os risos cessassem para explicar: graças a Deus tenho boa saúde e quando falto é em virtude de viagem necessária ou de algum compromisso inadiável avisando com antecedência minha ausência.

Suas turmas eram grandes. Geralmente meia centena de alunos. Ia conhecendo cada um com o passar dos dias. Aqueles mais desembaraçados que participavam das aulas, perguntando, indagando eram logo distinguidos e seus nomes gravados. Outros também eram notados pelas suas indisciplinas. Chegavam atrasados, perdiam provas etc. Os mais discretos ficaram na obscuridade por mais tempo.

Quando os alunos estavam muito inquietos e conversando demais ela simplesmente parava de falar e ficar observando a turma. Técnica sábia, todos se calavam para aula ser retomada. Levantar a voz, discutir, ameaçar, chantagear, pela sua experiência, não levava a nada.

Geralmente os alunos mais aplicados sentam nas carteiras da frente, mas a Rosa apesar de ser muito dedicada e tirar boas notas localizava-se sempre no meio da classe. Com ela a professora identificou-se logo. Era estudiosa, inteligente e exemplar. Nos dias de prova todos queria ficar perto dela na expectativa de pescar, ou colar como se diz comumente. Não era fácil em virtude do olhar da educadora que circulava a sala não permitindo tal intento, além do que a estudante tinha medo de ser pega passando cola. Em um desses dias de avaliação a discente encontrou-se em situação difícil porque a professora ao passar por ela não viu a prova na carteira. Foi subtraída por Alan, um colega malandro para copiar as respostas já que não havia outro jeito de conseguir a pesca. Ele não ia bem e precisava recuperar a nota. Que situação!

Túlio fazia parte dessa turma. Um rapaz sério com um perfil de intelectual. Usava óculos, pouco falava, mas mesmo assim não passava despercebido principalmente pela professora porque apesar de sua discrição estava sempre balançando a cabeça como discordando do que estava sendo ensinado. Isso deixava a mestra um tanto desconfortável. Parecia uma crítica ao que estava sendo exposto. Muitas vezes ela se dirigia diretamente a ele indagando: Você entendeu? Você concorda? Suas respostas eram vagas deixando sempre a dúvida. E ficava na cabeça da professora interrogações. O que eu disse de errado? E assim por dois semestres essa situação se repetiu. Essa era a única frustração da professora. Sentia-se por vezes incompetente. Achava que o aluno dominava o ementário mais do que ela. Ou será que ele discordava era com o método de expor o conteúdo?

O tempo passou e Túlio concluiu o seu curso. Ele era um aluno mediano apesar da cara de intelectual. Talvez se desse bem no mercado de trabalho embora seu temperamento fosse reservado. Procurando saber sobre os egressos a professora sempre tinha notícias de um ou de outro, mas de Túlio não se sabia. Tem um velho ditado que diz: até as pedras se encontram e um belo dia ela encontrou o aluno numa empresa renomada exercendo cargo importante. Que felicidade! Túlio que ao vê-la fez questão de recepcioná-la dando um tratamento vip. Enquanto tomavam um cafezinho ele declarou explicitamente que ela foi a melhor professora do curso. Seus ensinamentos foram muito importantes para o profissional de sucesso que sou, disse ele. Feliz com o que ouviu a professora sentiu vontade de perguntar porque ele passou o tempo todo balançando a cabeça como se discordasse de tudo que ela ensinava. Quando já ia fazendo a indagação foi interrompida por um funcionário que precisou de uma informação urgente e pedindo licença dirigiu-se ao gerente. Enquanto eles conversavam a professora observou que Túlio balançou a cabeça umas duas vezes. Moral da história: Ele tinha um tique nervoso. Nossa! Descoberta tardia, mas antes tarde do que nunca.

E assim a professora Laura continuou sua carreira feliz da vida. Esse era o único calo que tinha encontrada na sua vida profissional. Ledo engano pensar que estava sendo censurada e desaprovada, tudo não se passou de um trejeito. A professora ficou mais segura e feliz depois desse esclarecimento que tanto lhe torturava.

“Nem tudo que se vê é o que parece, nem tudo que parece é o que realmente é.”

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 19/02/2020
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