A Bala Perdida
A BALA PERDIDA.
(Hélio da Rosa Machado)
Numa mera operação matemática, para o cálculo feito do problema relacionado à violência que permeia nossas urbes, diríamos que: ‘Violência’ é igual ‘Bala Perdida’.
Nunca se viu na história o rastro de uma bala ultrapassando as situações do acaso e percorrendo diariamente os ares das cidades brasileiras, dentro de um texto de guerrilha; de um lado os policiais, de outro, os bandidos.
Os tiroteios lembram minha infância quando ia ao cinema para ver filme de ‘bang-bang’, onde se via bala pra todo lado; tinindo sobre as cabeças dos personagens, mas nem o próprio diretor do filme era capaz de prever que tanta bala assim poderia se reproduzir num futuro que alcançaria a realidade das pessoas.
Essa é a realidade do nosso País: Bala zunindo para todo lado e rodeando as pessoas (que estão nas ruas), deixando-as indefesas e vulneráveis, posto que ninguém tem bola de cristal para saber em que lado da cidade vai haver um tiroteio, considerando que esse fato é abundante em qualquer momento e em qualquer lugar.
Os jornais escancaram nos noticiários o calvário das vítimas e o povo a cada notícia observa com perplexidade a dor da cada família que perde um ente querido, inclusive crianças que brincam inocentemente e são alvejadas . A pergunta que sempre insiste em permear no íntimo das pessoas é sempre a mesma: Até quando?
É certo que o Estado não tem estrutura e nem organização suficiente para enfrentar o problema. Enquanto isso, as organizações criminosas se aproveitam das entranhas da clandestinidade e têm acesso a armamento importado e de grosso calibre, formando dois mundos distintos: de um lado as instituições legítimas se preparando legalmente para enfrentar o crime e, de outro, os bandidos montando verdadeiros cartéis voltados para o crime. Quem vencerá é a pergunta?
Enquanto a ‘guerrilha’ entre o bem e mal continua, as pessoas continuarão pagando com a vida o preço de viver num País de contrastes, onde pairam os escândalos políticos enredados por pessoas que dominam o bem público. Os chamados ‘colarinhos-brancos’ engordando o contingente no meio político, enquanto isso a sociedade espera que as vítimas da violência demarquem uma mancha vermelha de sofrimento no seio da comunidade, almejando somente o engrandecimento de sua luta, para que o eco de sua lamúria cale fundo no coração de quem pode socorrê-las.
A diminuição da maioridade penal é uma arma que pode ajudar, já que essa questão da formação do caráter e da formação do bom senso na personalidade das pessoas começa a se construir quando o jovem começa a perceber que pode se dar melhor ao lado daqueles que o apóiam com a criminalidade, perdendo noção dos valores essenciais da vida, desprezando, inclusive o próprio direito à vida, expondo-se a enfrentar todos os riscos que o crime é capaz de causar.
Enfim, nosso homem público deve debruçar-se com muito zelo nessa causa da criminalidade, criando mecanismo que dêem sustentáculo às instituições e principalmente ao Poder Judiciário, para que este julgue com autonomia esses criminosos e possa de maneira sistemática e organizada, compensar moralmente os familiares das vítimas com punições que se transformem numa resposta às exigências da sociedade.
O legislador deve lembrar que ele também pode ser vítima da truculência urbana. Deve esquecer-se de suas aspirações meramente materiais, para lutar por algo nobre; criando leis sérias para que as instituições possam se fortalecer e se igualarem às organizações criminosas em termos de arsenal e de disposição para lutar.
O exemplo de que a vontade política resolve os problemas de segurança foi claramente demonstrado nos jogos pan-americanos. O curioso é que isso só serviu como máscara de um sistema, para que a vitrine globalizada enxergasse um Brasil diferente do que é na realidade. Mas, para nós, ficou a sensação de que quando queremos nós alcançamos nosso objetivo. Um dia chegaremos lá, quando nossos governantes tiveram a sensibilidade de visualizarem o Brasil como uma pátria e não como uma querência de ilusões.