A menina e o amor no caderno azul
Era só uma menina com papel e caneta na mão, que resolveu escrever amor num caderno azul.
E era tão bonitinho o azul caderno com suas folhas coloridinhas,
Que a menina escreveu amor em letras grandes e pré-moldadas.
Tamanha arte em caligrafia
Fez do amor escrito em linha,
Uma palavra de poesia.
E a menina emocionada, arrancou depressa do azul caderno a folhinha que continha amor.
Porque amor, tão bem se sabe, não pode assim ser abafado
Tal qual um grito de homem mudo
Tal qual a dor que acostumou.
Sábia menina: dobrou o amor em duas dobras de compaixão.
Achou uma pena deixar aberto o amor na folha pra se sujar.
Achou uma pena largar a ermo. Quem perde o amor, não o acha mais...
Então a menina inconformada quis porque quis pôr na agenda o amor escrito em folha solta, colorida em solidão.
Mas a agenda da menininha era pequena e não cabia - Então, que jeito? - Pensou a menina – Eu vou dobrá-lo ainda mais.
Então o amor em folha solta de colorida página escrita, foi novamente dobrado afoito em quatro partes de agonia.
Era o amor da menininha tão bonitinho em suas dobras, que estando só em livro escuro, tornou o diário, uma ilusão.
A pobre agenda tão desgastada, não comportava tamanha folha que pequenina e coloridinha tomava o livro todo pra si.
Não tinha jeito! A menininha tomou a folha
e fez contente mais uma dobra;
queria mesmo porque queria
o seu amor protegidinho
Como se amor escrito em folha
fosse eterno se escondido.
Mas a folhinha coloridinha que era tão bela sem tantas dobras, foi enfeando a passos largos
Como tristezas de olhar que chora;
como o soluço do amor que vai.
E a menininha já decidida, tirou o amor daquele claustro.
Desfez feliz dobra por dobra
e novamente viu a beleza da folha solta e colorida, escrito amor em esperança.
E percebeu que o amor inteiro
é grande, grande, como o infinito.
Não caberia em folha solta, nem em diários de vida curta.
Então partiu em mil pedaços todo o amor coloridinho, escrito em folha de solidão.
E derramou algumas lágrimas que amoleceram os pedacinhos de amor escrito em folha solta que foi rasgada sem perdão.
A menininha em noite fria, juntou pedaços e abriu a janela. Rendeu-se a força de um vento errante e pôs o amor para voar.
E observou tão bonitinha, o jeito calmo que amor e brisa teciam versos e metonímias em balé solto pelo ar