" À MESTRA, COM CARINHO "

Diante da necessidade de travar no dia-a-dia uma batalha contra o mundo virtual, na disputa pelo interesse do jovem em dispensar a si mesmo o tempo devido à construção de sua cidadania, o ensino prescinde, cada dia mais, de professores que busquem a alma do aluno, fazendo com que, através dela, ele alcance a compreensão sobre o respeito e a dignidade que deve a si mesmo. È preciso fazer ao jovem, acreditar que ele vale muito mais do que o brinquedinho eletrônico anunciado na loja da esquina e que a única e real riqueza está em assimilar conhecimentos que o capacite a ter uma percepção consciente e madura de que o mundo precisa dele e que ninguém nasce por necessidade de si mesmo.
Tarefa fácil? Não, não é. Mas não se pode desistir. O jovem, mesmo encantado com as possibilidades de um simples "clic" tem dentro de si a vocação Divina para celebrar a vida, para celebrar o belo, e que pode ser despertada por uma atitude de fé, perseverança e amizade desse profissional fantástico que é o professor.
Neste 15 de outubro, rendo minha mais sincera homenagem a todos os professores que não desistiram do seu sonho, que se emocionam diante do trabalho bem feito pelo aluno, pela consciência plena e justa de que aquilo é um fruto de sua obstinada determinação, no exercício desse sacerdócio que é o magistério.
Eu gostaria de poder encontrar nesse dia, cada professor ou professora que, de forma tão generosa, legaram a mim um pouco de sua imensa riqueza, para abraçá-los e lhes dizer que, em relação a mim, nenhum sacrifício foi em vão. Eu sou uma pessoa plenamente feliz, revelada na gratuidade daquilo que me ensinaram.
Não há quem seja o melhor ou o mais importante. Uma contribuição é uma contribuição. Mas juro, não passo um só 15 de outubro sem me emocionar com a lembrança da saudosa Mestra, Lúcia Santos Starling de Almeida, e de um fato que marcaria para sempre a minha vida. Ela era minha professora de 4ª série. Num dia, ela liberou a turma ao toque da sirene, mas pediu que eu permanecesse. Fiquei sem entender. Eu não havia aprontado nada. Mas, naqueles bons tempos, Professora era Professora e aluno era aluno. Baixei a cabeça e esperei. Quando o último colega saiu, ela fechou a porta da sala, abriu sua bolsa, tirou uma nota de cinco cruzeiros e me entregou dizendo: 
_ Toma, meu filho, é pra você cortar o cabelo. Eu naõ gosto ver os meninos rindo de você e te chamando de cabeludo.
Ela se foi, e eu nem aproveitei o tempo que tive para lhe dizer que a amava. mas tenho certeza que ela sabia disso! As pessoas como D. Lúcia, sempre sabem ler a alma da gente. 
Parabéns a todos os professores e, pelo amor de Deus, continuem sonhando.