IDENTIDADE É HISTÓRIA.
“A Igreja remodelou a fisionomia da civilização. O substancial nela foi o concílio de Nicéia, o dogma definido por Santo Atanásio. Não é Cristo o homem feito Deus, mas o Deus feito Homem”, manifesta a sensibilidade de Pedro Calmon em seu “Curso de Teoria Geral do Estado”.
E acrescenta: “Se Cristo fosse considerado como queriam os arianos, seria uma espécie de Confúcio, mestre de moral; a China........Como o entenderam os judeus antes de São Paulo, uma espécie de Sócrates, mestre de verdade. Teríamos a Grécia..... Como o interpretaram os latinos, antes de Constantino, um reformador social. Teríamos Roma...... Nas três hipóteses pereceria com o tempo: como China, Grécia e Roma. A sua eternidade está naquela essência divina: isto explica a alma romana da Igreja: é o segredo de sua duração e universalidade. A Igreja de Jesus é feita de virtudes que mostram ser a terra desprezível em relação à outra vida.”
A boa Igreja - pois em sua temporalidade foi boa e má, como todas as instituições humanas - é a que prega a verdade cristã.
Essa a configuração da identidade da Igreja. Ela concede para penitentes conforto, acolhe o arrependido que se desvia, não o recalcitrante, indulgencia aquele que se mostra consciente e eficazmente arrependido das faltas, mas não chancela o mitômano, o hipócrita, não acolhe o reincidente em mal feitos, não abençoa o criminoso que se faz de vítima, antes tenta sua remissão e sua recondução ao caminho da verdade.
Não há melhor veículo contemporâneo que o computador para todos, ficou pacífico esse entendimento. Doentes do ego no mundo virtual e suas sequelas de identidades que se mostram circulam com velocidade. E isso serve para a universalidade das condutas e exemplos. Todos somos pessoas, pecadores universais originários segundo as sagradas escrituras. Sagradas embora feitas pelos homens, mas com inspiração divina.
A perda da identidade real serve à dissimulação ou ao plantio do equívoco. A integridade é primor no diálogo com a consciência. Somos uma parcela da eternidade, todos, e nela a questão da identidade humana é fato do qual não podemos escapar.
O venerável hoje santo João XXIII, artífice da tão discutida "Mater Et Magistra", teve seu homônimo antipapa.
“João XXIII nascido Baldassare Cossa (Nápoles, ca. 1370 - Florença, 22 de dezembro de 1419) foi Antipapa de 1410 a 1415; que figura em muitas listas de papas.
Era pirata na mocidade, estudou na Universidade de Bolonha. Entrou no serviço da Igreja Católica durante o pontificado de Gregório XII (1406–1415). Cardeal em 1402. Eleito e sagrado em Bolonha, em 1410, para suceder ao antipapa Alexandre V, o primeiro papa cismático eleito em Pisa.Foi deposto e aprisionado no ano seguinte, 1415. Libertado em 1418, reconheceu Martinho V como verdadeiro Papa e, retornando do Sacro Império, onde estivera encarcerado desde sua deposição, foi ele nomeado Cardeal-bispo de Frascati e deão do Sacro Colégio.”
A identidade registra a caminhada desses homônimos.
Por isto existem públicos heterogêneos também. Por quê? Dá-se na humanidade a diversidade por serem diversos os homens.
Todas as atividades e vidas estão acompanhadas da real identidade de quem vive. Com todos seus sucessos, complexos, frustrações, dissimulações e truncadas personalidades.
Na obra “Natureza do Bem”, em oposição a Maniqueu, de Santo agostinho, Sidney Silveira, com cátedra, mostra que “é esse suplicante religioso, que discernindo entre o verdadeiro e o verossímil, chega à conclusão que a verdade é imortal, e pressupõe uma consciência absoluta e eterna – que não é a humana, mas a de Deus ”. Isso é a identidade.
Quanta realidade em um pequeno período. Por quê? Por ter dito com a ausência de qualquer erronia o Bispo de Hipona, Santo Agostinho ; “a verdade é o que é, independente de quaisquer subjetivismos, porque antes de o homem pensar estão postas as coisas diante dele, não como ele as quer, mas como elas são”.
Identidade é a verdade de nós mesmos. Não serve à fuga posição protagonizada. O sinal dado mesmo tênue, é razão maior de frisar e autenticar o que somos. Não se encontram espaços no áspero caminho terreno que dilacera plantas peregrinas e sofredoras, que buscam outros jardins e não a caminhada ansiosa que vê ao fim o pouso da morte, escura e por vezes sem promessas construídas ao menos na aspirada paz alicerçada na fé. Tudo isso é trânsito tormentoso onde se pena de dor e se esvazia de esperança, quando a identidade fica sem reconhecimento.