Dai-me distância do Santo Daime
Em toda roda de pessoas estranhas, descoladas ou diferentonas sempre existe alguém para falar alguma coisa sobre o Ayahuasca e suas experiências do além. O chá do Ayahuasca também conhecido como Santo Daime, é composto pela mistura do cipó-mariri e da planta chacrona e é famoso no Brasil por causar visões e ser usado em rituais religiosos. Eu como uma pessoa meio fumante e meio fumado, amante natural de coisas da natureza e apaixonado por estados alterados de consciência, não demorei muito para apresentar alguma curiosidade sobre essa experiência.
Depois de muito ouvir falar finalmente apareceu a esperada oportunidade de ficar doidão no que possivelmente seria minha nova religião. Ao me dirigir com meus amigos para o local, a primeira coisa que saltava aos olhos era como o lugar era distante de tudo. Para ser mais exato, o lugar ficava no interior afastado de um bairro periférico localizado em uma região de difícil acesso. Quem acha respostas em um lugar tão contramão, realmente deve estar muito perdido.
Ao chegar na igreja era difícil se manter sério e não cair na gargalhada, o local tinha uma decoração bizarra além de ser cheio de pessoas aleatórias, mas o que mais chamava a atenção era o sincretismo bizarro do lugar, São Jorge, Iemanjá, Buda e Jesus Cristo juntos no local onde seria distribuído o chá claramente alucinógeno.
Então começou o ritual religioso e as bebidas foram distribuídas e entramos todos em uma roda para tomar todos ao mesmo tempo. Embora a bebida tivesse cor de cappuccino, o gosto destoava e muito disso, o sabor do Ayahuasca não é doce ou salgado, amargo ou azedo, o gosto era simplesmente o pior gosto do mundo não sendo capaz de ser descrito. O gosto era sabor da mãe terra um pouco suada e muito zoada, apenas o gosto já devia ser capaz de alterar a consciência de qualquer infeliz ou condenado.
Depois de tomar o chá eu e meus amigos nos dirigimos para os bancos da igreja para esperar o show da noite, os efeitos da bebida. Os rituais religiosos continuaram em um ritmo que misturava macumba e pajelança ao som do canto de rezadeiras e nesse momento eu já me perguntava o que diabos eu estava fazendo naquele lugar.
Os efeitos começaram e foram muito diferentes dos imaginados, o corpo cansado, uma tontura estranha, o enjoou frequente e uma tremedeira forte foram os primeiros sintomas a chegar, logo depois a visão ficou amarelada, mas nada ainda dos fantásticos efeitos descritos por amigos que se aventuraram nessa odisseia química antes de mim.
Fiquei um pouco chateado por ficar sóbrio após a ingestão do chá, mas depois de bater um papo com minha vozinha desencarnada há mais de uma década, pude então perceber que talvez eu não estivesse tão sã como eu pensava.
A cerimônia continuou noite a dentro com muita dancinha, muita cantoria e muita loucura com o open bar de Ayauasca, por mais estranho que possa parecer, eu repetia dose. Algumas pessoas saiam da igreja para vomitar no mato que cercava o lugar e eu não sabia se meus amigos estavam bem ou não, embora me parecesse meio impossível alguém estar curtindo a experiência.
De fato o chá aproximava as pessoas de Deus, eu mesmo durante os efeitos daquilo que parecia ser um envenenamento, tinha a certeza que iria conhecer nossa divindade presencialmente, pois faltava bem pouco para eu desencarnar. Os efeitos foram passando pouco a pouco durante a cerimônia que durou pouco mais de 14 horas de sábado para domingo.
No fim, como tudo, passaram os efeitos e ficaram as histórias, afinal desgraça de jornalista quando não acaba em morte acaba em crônica.