POR QUANTO TEMPO MAIS [RE]EXISTIREMOS?
Hoje, os 2 professores mais influentes do Brasil não são professores.
Claudinho Chandelli
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Em 2013, salvo engano, escrevi um editorial para o Informativo (@POROROKA) do Sindicato dos Servidores Públicos da Educação do Amapá (SINSEPEAP) no qual chamava a atenção para a principal diferença entre o professor e os demais profissionais: a função política.
Para o meu profundo desapontamento, milhares (provavelmente milhões) desses profissionais limitam o conceito (de função política ou fazer político) por mim empregado àquela ocasião a coisas do tipo filiar-se a partido político, ser candidato ou simplesmente tornar-se cabo eleitoral – o que eu, de fato, muito lamento!
“Ora”, tenho insistido, o Magistério não é apenas uma profissão; é uma causa!
Acho um pouco gozado quando convido algum colega para participar de alguma ação política – organizada pela categoria, já que quando é pela gestão não há necessidade de convidar, a adesão é espontânea – e ele diz “não”, e se justifica: “Não gosto de confusão”. Em outras palavras, ele está dizendo que eu gosto de confusão, já que participo e estou a convidá-lo.
Outro pensamento que tenho defendido é o de que “a política não resolve tudo, mas tudo que se resolve é através da política”. E tento justificar: em lato sensu, política nada mais (e nada menos) é do que a capacidade de escolher, de optar, de decidir. Assim sendo, como já afirmava Platão, “o homem é um animal político” – e isso não é uma escolha. A escolha, nesse caso, limita-se tão somente ao tipo de político que se decidirá ser. Ainda assim, há aqueles (e, seguramente, eles são maioria) que acreditam que existe a tal neutralidade: “se eu não tomar partido, não estou sendo político nem fazendo política”, argumentam os que refutam a tese em lide. Esses professores não conseguem entender – ou preferem não admitir – que não ter posição política já é uma posição, e é política (uma vez que toda e qualquer posição resultante da capacidade – que só os seres humanos têm – de decidir é uma posição eminentemente política).
Quando escrevi o editorial, afirmei que ou mudaríamos nossa postura (assumindo-nos como, antes de tudo, sujeitos políticos) ou, em pouco tempo, seríamos descartados, uma vez que apenas para transmitir informações as máquinas seriam substitutos infinitamente melhores e mais vantajosos: não reclamam, não contestam seus chefes, não fazem greve, não precisam de salários nem de férias, não se deprimem, erram incomparavelmente menos e produzem infinitamente mais do que nós, humanos.
Hoje, mesmo a pessoa mais desatenta ou ingênua já se deu conta de que a presença do professor em sala de aula não se faz mais necessária para informar o aluno – aliás, ele precisa tomar bastante cuidado nesse quesito para não ser constrangido, já que muitos alunos (por inúmeras razões) estão mais bem informados do que a maioria de seus mestres – e não me refiro a universitários.
Se o aluno não precisa mais do professor para se informar, qual passa a ser a utilidade deste de agora em diante?
A esse respeito, faço as seguintes ponderações;
1) Nenhum professor, por mais genial e comprometido que seja, conseguirá armazenar tanta informação e emitir tantas respostas em tão pouco tempo quanto o “professor” Google, por exemplo – nesse quesito, ele é simplesmente imbatível. Ora, como aluno, pra que eu preciso de professor pra me informar o que a internet já me informou? Ou seja, daqui pra frente, teremos que usar a internet como aliada; como concorrente, estaremos perdidos.
2) Por que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) determina como atribuição da “escola que acolhe as juventudes” o “comprometimento com a construção de seu projeto de vida”? E o que vem a ser a construção desse projeto de vida?
3) Quem são, na atualidade brasileira, os dois “professores” mais influentes?
Creio que, diante dessas provocações fica mais do que evidente que o professor do séc. 20 jamais será o professor das próximas décadas do 21. Isso equivale dizer, sem nenhum arrodeio, que ou adotamos novas posturas ou simplesmente seremos extintos, processo, aliás, já em curso com o avanço da EaD (Educação à Distância) e os mais mirabolantes projetos, como o da educação domiciliar, além dos milhões de tutoriais via rede mundial de computadores, que ensina desde preparar Miojo até montar e desmontar o motor de um carro.
Como se isso não fosse suficiente, o avassalador avanço da Igreja (agora, não a Católica, mas a Evangélica) sobre o Estado não é sinal, é a mais clara certeza de que, muito em breve – a menos que reajamos rápida e eficazmente –, o ensino oficial sairá da responsabilidade de professores para a tutela dos iluminados sacerdotes, cumprindo-se a profecia da ministra-pastora-profetisa de que: “não é a política que vai mudar esta nação, é a igreja”.
A guisa de conclusão, creio ser de bom alvitre ressaltar que atualmente no Brasil os dois mais influentes professores não são nenhum doutor de nenhuma de nossas universidades, mas um aprendiz de Astrologia e um ex-capitão desertor do Exército.
Excentricidades e folcloridades de ambos à parte, o certo é que o segundo comanda a política, a economia e a administração pública; e o primeiro, que é guru do segundo, através de seus pupilos em ministérios como os da Educação e Relações Exteriores e na Secretaria Nacional de Cultura dá o tom do “Brasil dos novos tempos”, em que se acredita que a Terra é plana, que a cor da roupa define o caráter da pessoa e que a castidade dos jovens é assunto da mais alta relevância e competência do Estado.
Você pode achar que é piada (é direito seu). Mas o fato é que, hoje, eles são, de fato, os grandes influenciadores do País – da Economia ao Meio Ambiente, da Moda à Religião, passando pelas Artes e todo tipo de Cultura. Enquanto nós, os professores, além de sermos vendidos como “doutrinadores”, as adjetivações mais valiosas que alcançamos são títulos como “idiotas úteis”, “parasitas” e “energúmenos”.
Daí, a necessidade de arguição: diante desse quadro e da hercúlea resistência da absoluta maioria dos docentes brasileiros em se assumirem como sujeitos políticos, até quando resistiremos ou existiremos?