Ta lá na noite preta

Olho para ele ali deitado e o meu mundo se resume a todas as coisas que eu consigo imaginar neste momento em que aqui estou. O que é a vida, além disso? O que MAIS é a vida além disso do que eu consigo imaginar agora que eu o vejo ali deitado, inerte, boca aberta, dormindo e lutando pela vida enquanto descansa, essa mesma vida sobre a qual eu pergunto: o que mais é além disso?

Passa a moça com a criança pela frente do hospital e eu a vejo pela janela do corredor do segundo andar, forte e cheia de vida, cuidando da outra pequena vida, alheias ao que a vida é do ângulo em que eu a vejo agora. A vida é essas duas coisas, esses dois ângulos, e muito mais: a vida é tudo isso e mais um pouco, esse pouco pelo qual ele luta enquanto dorme com a boca aberta sem roncar.

Não sinto vontade de chorar e tampouco invejo a moça da rua, pois não volta o que já se foi e ainda nem se chegou ao que nos espera, que é a esperança não de futuro, mas de estar no futuro, seja como for. Cai a noite. Luzes artificiais. Calada noite preta.

Ta lá na noite preta o que eu não sei bem o que é ou o que imagino pois só vejo à distância. No quarto está a esperança sob a luz tênue da luminária da parede e sob o aconchego leve dos lençóis muito brancos. Os passarinhos que cagam sobre o teto do carro preto não são cor de laranja e não há café preto ou pastel aqui a essa hora. Nem consigo ver bem os passarinhos na noite preta, só o bombardeio esbranquiçado sobre o veículo preto iluminado pela luz artificial. A vida é o ar condicionado soprando temperatura amena, amenizando a alma febril.

O que é a vida, mais que isso?

Boa noite meus fieis 23 leitores e demais 36 que de quando em vez passam por este sanatório literário para ver o que este Bacamarte escreve como alívio imediato. Hoje o que eu tinha para escrever era isso.

E a noite preta segue lá fora e tudo o que há tá lá na noite preta.

Hello, sound of silence. Aleluia, corpo vadio. Eu sei.

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

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(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina

Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".).

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 16/02/2020
Reeditado em 16/02/2020
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