Saudade da roça
É final de verão. Faltam alguns dias para que a estação despedir-se-á do ano iniciado, porém voltará em breve, ou seja, no final do mês de dezembro.
É possível ouvir o canto alegre da seriema lá no alto do cerrado. Possivelmente já chocou e está com alguns dos filhotes. O canto dela é lindo, longo e denota uma melodia como se estivesse muito feliz. É normal o sentimento de felicidade de uma família quando nasce um filho.
O rio está cheio, porque foi sinal de muita chuva nos dias anteriores. Com as águas barrentas e turvas, ele está feroz e deixou para trás algumas poças junto à várzea por onde escorre.
O gado pasta tranquilamente e longe das poças de águas turvas deixadas pelo rio. Vão em bando. As mais velhas vão primeiro e provam a linda grama verde. Deverá estar tão suculenta como um bom churrasco assado nas brasas feitas de sabugos de milho, após a colheita. As mais novas, sempre olhando para os lados, contemplam as maravilhas da vida que elas foram expostas. São jovens, bonitas, destemidas e ainda estão encolhidas para a natureza
Alguns pássaros voam e pousam nas poucas árvores em volta da casa. Fazem uma cantoria tão orquestrada que um bom maestro poderia compor a sinfonia da natureza dos pássaros. Em bando, voam de um lado para o outro. Estão preparando para o pouso noturno.
Um pouco mais acima, está a magnífica serra. É bastante alta. Coberta com um imenso véu verde, laqueada por altas e profundas árvores e um rasteiro capim. É a montanha toda majestosa. As chuvas lhe deram um banho de alegria. O verde cresceu e tomou conta de tudo. As sementes germinaram e pequenas plantas nasceram e serão grandes árvores para substituir e dar nova vida àquela montanha, a qual deram-lhe o nome de serra. Poderá ser o nome de Serra Negra pelo verde dentro dela. Poderá, também, ser a Serra de uma cidade vizinha. Enfim, a visão ali é fantástica e merece a cada dia uma fotografia para ficar na história.
Da janela do quarto, já de banho tomado, calçado de sandarias de borracha, uma camisa simples com alguns remendos, calça comprida bem leve, o cabelo penteado para trás, o caboclo olha para a janela e escreve tudo o que está vendo dentro dos próprios olhos.
Ao lado, uma caneca de café feito na hora. Com muito pó e de um aroma perfeito. Ele deixa o prato do jantar em uma pequena mesinha. Sobre ela, um outro prato com um pedaço de queijo fresco, dois ou três pães de queijo bem amarelos, feitos com ovos de galinha da angola, e uma pequena quantidade biscoitos secos que foram assados há três dias no forno de barro do quintal. Um pedaço de doce de goiaba feito em meados do mês de janeiro do mesmo ano.
Aprecia a paisagem à frente. Os olhos veem tudo ao redor. O gado no pasto, a pequena enchente no fundo a horta, escuta o canto dos pássaros e as galinhas que correm em direção ao galinheiro ou a grande árvore de manga próxima dali. Instantaneamente, morde no pão de queijo e com a outra mão, leva a caneca de café à boca. Dá uma pequena soprada e olha a fumaça espalhar no ar úmido. Descansa a caneca sobre o para peito da janela. Com a mão direita, tira um pequeno pedaço do pão de queijo e joga para o fiel amigo que o observa lá embaixo. É o cão de estimação.
Solta um forte grito:
- Como é bom viver na roça.