Poesia com cheirinho de pão, mas que no fim virou números sem sentido
Escrevi uma poesia no papel que embrulhava o pão, acabei enrolando o mesmo no abacate verde doado para a vizinha. A vizinha comeu o abate e usou o papel para encapar o caderno de receitas, o caderno de receitas era o canal que ligava a vizinha e sua amada mãe e um dia minha poesia foi morar na velha casa de madeira junto ao fogão a lenha ..
Minha letra trêmula de um momento de intensa inspiração agora repousa ao calor do fogo creptante da lenha no fogão.
Minha poesia que falava de amor agora é platéia do cozinhar de uma mãe que na cozinha é uma celebridade.
Um dia chegou visitas e ao lado do velho fogão muitos risos e lembranças de uma vida feliz, minha poesia agora era cúmplice das recordações e memórias de uma família inteira. Não tento onde anotar o número de telefone da tia,a mãe da minha vizinha rasgou um pequeno pedaço da minha poesia que ali jazia observando tudo sem ser sequer notada.
Minha poesia virou agenda telefônica e entre as palavras ritmadas em versos ardentes agora se le números sem significados específicos para mim.
Minha poesia incompleta já não rima e nem tem concordância com o que nela foi escrito.
A dúvida é qual parte da minha poesia porventura foi arrancada?
Pela dor q me invadiu temo ter sido o ápice do desfecho da beleza da poesia, q cheirando a cebola e lenha jazia na fria poeira dos poemas assassinados pelas circunstâncias inusitadas.
Onde quer que esteja hj minha poesia é apenas uma vaga lembrança ..
Um fluir livremente pela eternidade