O carnaval vai passar
Ainda está a caminho, já está anunciado por alguns blocos, mas ele vai chegar. Chegará porque, finalmente, ninguém é de ferro para suportar tanto trabalho e amarguras do ano inteiro, sem o tradicional carnaval, se ele não for dança, samba ou frevo, será repouso. Mas, ele não chegou para descanso ou meditações, mas sobretudo para exorcizar inseguranças, fantasmas que rondaram as nossas portas, como animais ameaçadores ou bichos perigosos, contudo menos atormentadores do que o próprio homem. Na humanidade há indivíduos que se comportam como não fossem gente, são capazes de crimes cruéis: filho matar a mãe e o pai que lhe deram cria, como se fosse brincadeira, mesmo durante o carnaval.
Lazer não é novidade. A humanidade sempre teve suas grandes festas ao lazer. O próprio Noé, está na Bíblia, tomou um porre de vinho e desnudou-se, depois de embriagado. Recoberto pelo filho, com um lençol, terminou por castigá-lo, alegando que estava fora da sua consciência. Baco (Dionísio ), deus do vinho e filho de Júpiter, conquistou a Índia acompanhado de homens e mulheres, tendo como armas de guerra apenas alguns tambores. Suas festas eram escandalosas e acompanhadas por ninfas, sátiros, pastores, pastoras, sem contar, claro, com as Bacantes - suas sacerdotisas. Daí o termo " bacanais ", até hoje usado para festas orgíacas. Contam ou consta, nesse contexto, que Baco fundou a primeira escola de música. Também era chamado de Liber (Livre), uma vez que suas orgias eram incontroláveis, pois o vinho libera os instintos e faz esquecer o bom senso, ficando “nada proibido”... Do seu nome "Livre" surgem as "festas liberais"; o carnaval é uma delas. Condenado por Juno à loucura, Baco andou vagando pelo mundo, espalhando carnavais por aí.
Os tamborins estão esquentando. E logo já, no Rio de Janeiro, as mulatas descerão o morro, lindas, torneadas, mostrando seus corpos reluzentes à luz do sol, ou à luz dos refletores. Inigualáveis, enveredarão pela avenida acompanhadas pelos sambas-enredo. Enlouquecerão a multidão, contorcionando-se nos mistérios dos sons e dos seus músculos como sacerdotisas de um culto sagrado, sensual e misterioso, revelando o segredo de um aprendizado somente ensinado pela influência afrodescendente e pelo ensino nas escolas de samba. Muitas terão os corpos recobertos de purpurina, não para esconderem algum pudor que o tempo envelheceu, mas para aguçarem os instintos visuais ansiosos pelas novas fronteiras da sensualidade. Depois virarão "estrelas da avenida e da televisão". Não importa a grandeza naquele “céu”: se de primeira, de segunda ou de terceira grandeza. Talvez simplesmente serão estrelas e perturbarão as noites de solidão e lazer dos homens apaixonados, estremecendo os seus amores e as suas vidas - estágios obrigatórios da fantasia existencial.
Em algum salão, alguém ainda poderá dizer, cantando: "Vou beijar-te agora \ Não me leve a mal \ Hoje é carnaval !...", ante os vapores do álcool, a fumaça dos cigarros, o voo das serpentinas e o pouso suave dos confetes na pele dos enamorados. O asfalto emudece os passos cadenciados da multidão enlouquecida. E algum Pierrô ainda poderá estar chorando pelo amor de alguma Colombina, pausa para tirar máscaras, eflúvios, lágrimas, sorrisos, e sobretudo mentiras ou juras de amor. Depois virão as cinzas; o silêncio das ruas; as olheiras; o despertar do que restou. Algumas deslembranças, mas também saudades, e talvez arrependimentos com a costumeira explicação: valeu a pena. A pena de haver passado o ano inteiro vigiando esperanças, aparando amarguras, contornando desencantos e sabendo que a vida, no tempo sem fim, está lentamente se extinguindo. Num lugar qualquer, quem sabe, alguém ainda poderá dizer, ao ser apresentado a outrem: - Engraçado, tenho a impressão de que te conheço! E quem sabe, nessa circunstância, poderá nascer uma linda história de amor. No fim, na madrugada chuvosa de um bar, já sem o serviço de cozinha, poucos adultos discutem política: O mais astuto é mais forte do que o mais forte?
Ainda está a caminho, já está anunciado por alguns blocos, mas ele vai chegar. Chegará porque, finalmente, ninguém é de ferro para suportar tanto trabalho e amarguras do ano inteiro, sem o tradicional carnaval, se ele não for dança, samba ou frevo, será repouso. Mas, ele não chegou para descanso ou meditações, mas sobretudo para exorcizar inseguranças, fantasmas que rondaram as nossas portas, como animais ameaçadores ou bichos perigosos, contudo menos atormentadores do que o próprio homem. Na humanidade há indivíduos que se comportam como não fossem gente, são capazes de crimes cruéis: filho matar a mãe e o pai que lhe deram cria, como se fosse brincadeira, mesmo durante o carnaval.
Lazer não é novidade. A humanidade sempre teve suas grandes festas ao lazer. O próprio Noé, está na Bíblia, tomou um porre de vinho e desnudou-se, depois de embriagado. Recoberto pelo filho, com um lençol, terminou por castigá-lo, alegando que estava fora da sua consciência. Baco (Dionísio ), deus do vinho e filho de Júpiter, conquistou a Índia acompanhado de homens e mulheres, tendo como armas de guerra apenas alguns tambores. Suas festas eram escandalosas e acompanhadas por ninfas, sátiros, pastores, pastoras, sem contar, claro, com as Bacantes - suas sacerdotisas. Daí o termo " bacanais ", até hoje usado para festas orgíacas. Contam ou consta, nesse contexto, que Baco fundou a primeira escola de música. Também era chamado de Liber (Livre), uma vez que suas orgias eram incontroláveis, pois o vinho libera os instintos e faz esquecer o bom senso, ficando “nada proibido”... Do seu nome "Livre" surgem as "festas liberais"; o carnaval é uma delas. Condenado por Juno à loucura, Baco andou vagando pelo mundo, espalhando carnavais por aí.
Os tamborins estão esquentando. E logo já, no Rio de Janeiro, as mulatas descerão o morro, lindas, torneadas, mostrando seus corpos reluzentes à luz do sol, ou à luz dos refletores. Inigualáveis, enveredarão pela avenida acompanhadas pelos sambas-enredo. Enlouquecerão a multidão, contorcionando-se nos mistérios dos sons e dos seus músculos como sacerdotisas de um culto sagrado, sensual e misterioso, revelando o segredo de um aprendizado somente ensinado pela influência afrodescendente e pelo ensino nas escolas de samba. Muitas terão os corpos recobertos de purpurina, não para esconderem algum pudor que o tempo envelheceu, mas para aguçarem os instintos visuais ansiosos pelas novas fronteiras da sensualidade. Depois virarão "estrelas da avenida e da televisão". Não importa a grandeza naquele “céu”: se de primeira, de segunda ou de terceira grandeza. Talvez simplesmente serão estrelas e perturbarão as noites de solidão e lazer dos homens apaixonados, estremecendo os seus amores e as suas vidas - estágios obrigatórios da fantasia existencial.
Em algum salão, alguém ainda poderá dizer, cantando: "Vou beijar-te agora \ Não me leve a mal \ Hoje é carnaval !...", ante os vapores do álcool, a fumaça dos cigarros, o voo das serpentinas e o pouso suave dos confetes na pele dos enamorados. O asfalto emudece os passos cadenciados da multidão enlouquecida. E algum Pierrô ainda poderá estar chorando pelo amor de alguma Colombina, pausa para tirar máscaras, eflúvios, lágrimas, sorrisos, e sobretudo mentiras ou juras de amor. Depois virão as cinzas; o silêncio das ruas; as olheiras; o despertar do que restou. Algumas deslembranças, mas também saudades, e talvez arrependimentos com a costumeira explicação: valeu a pena. A pena de haver passado o ano inteiro vigiando esperanças, aparando amarguras, contornando desencantos e sabendo que a vida, no tempo sem fim, está lentamente se extinguindo. Num lugar qualquer, quem sabe, alguém ainda poderá dizer, ao ser apresentado a outrem: - Engraçado, tenho a impressão de que te conheço! E quem sabe, nessa circunstância, poderá nascer uma linda história de amor. No fim, na madrugada chuvosa de um bar, já sem o serviço de cozinha, poucos adultos discutem política: O mais astuto é mais forte do que o mais forte?