MELANCÓLICA NOITE
É uma noite calada, distante, sem brisa, escura e com suspiros de chuva. Lá fora o nada, a falta de vida; nas salas das residências o tédio, a espera, a saudade, a solidão, a ausência de sorrisos. Noites assim entristecem, são melancólicas, parecem intermináveis, expressam morbidez. Como se parassem no tempo, dormissem por obra dalgum sonífero, se entregassem à amargura. Noite desprovida, chorosa, dispersa, entregue a pensamentos indizíveis, a lembranças lúgubres, a músicas tão silenciosas que cortam pedaços da alma. As crianças rindo desapareceram, os casais enamorados fugiram das lagrimas celestiais, não há nem mariposas nem grilos, os anuros sumiram, só é perceptível a vaga presença etérea duma brisa fria mais ousada que, às vezes, assobia monótona por entre as frestas das janelas quase inteiramente fechadas. Numa noite assim, pálida e desgostosa, um único pensamento toma conta de muitos corações: passe logo noite triste, dê lugar à madrugada e deixe-a parir o novo dia.