A Censura da Arte!

Quando as mídias sociais noticiaram a medida tomada pela secretaria de educação do estado de Rondônia não notei nada de anormal. Afinal, toda obra literária passa por rigorosa análise até ser disponibilizada às instituições de ensino, necessitando entrar em concordância com critérios específicos referentes ao seu público. Não há nada de estranho nisso que mereça tanto estardalhaço. Por curiosidade, fui verificar que obras foram indicadas para serem recolhidas das escolas por não atenderem aos critérios do governo daquele estado.

Dentre os autores citados figuram os nomes de Mário de Andrade, um dos pioneiros da poesia moderna brasileira, força motriz responsável pela realização da Semana de Arte Moderna de 1922, e também autor de Macunaíma, considerado um dos romances capitais da literatura brasileira. Ferreira Gullar, um dos fundadores do neoconcretismo e membro da Academia Brasileira de Letras. Carlos Heitor Cony foi outro autor que apareceu com algumas obras presentes nessa lista. Será que é porque ele também é um imortal da Academia?

Outro membro da mesma a ter sua obra proibida foi Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. O autor do dicionário de mesmo nome que se tornou referência nacional! E o que dizer de Nelson Rodrigues? O mais influente dramaturgo brasileiro. Ou Euclides da Cunha, outro imortal, que escreveu “Os Sertões”. O que mais me espanta é o fundador da Academia Brasileira de Letras, escritor brasileiro mais influente no cenário internacional e para muitos o maior nome da literatura brasileira, entrar nessa lista. Estamos falando de Machado de Assis!

A lista não para por aqui, temos os ícones da literatura universal Franz Kafka e Edgar Allan Poe. O primeiro é considerado pelos críticos como um dos escritores mais influentes do século XX apesar de boa parte de sua produção ter sido publicada postumamente. O segundo é considerado o inventor do gênero ficção policial com Auguste Dupin. Além desses nomes o estopim que desencadeou o pedido de retirada dos exemplares de clássicos da literatura nacional e mundial foi Rubem Fonseca, um dos autores contemporâneos mais influentes da atualidade ainda em atividade.

Censurar a arte nunca foi novidade na nossa sociedade. Já vimos essa estória antes, com escritores como Mark Twain, Stephen King, José Saramago, William Shakespeare e o próprio Rubem Fonseca, que já tiveram suas obras censuradas em algum momento da história e por determinadas organizações sociais. Isso aconteceu também com a Bíblia, o Alcorão e a Torá por motivos que você sabe bem quais são. Sem contar que outras expressões artísticas também sofreram ataque proibitivo ao seu conteúdo.

Hoje, percebo o quanto a leitura é perigosa. Sinto o país voltando a viver tempos temerosos em que as liberdades civis eram postas em cheque por autoridades incompetentes que viam nas expressões artísticas um inimigo mortal. Abstrair a realidade para torná-la mais palatável é uma das funções primordiais da arte e não pode ser negada, nem censurada da maneira que foi. Uma nação em que o analfabetismo funcional é uma mazela social que assola a maioria da população, ler pode tornar-se sinônimo de subversão.

Em um país que troca o amor pelo ódio e o altruísmo pela intolerância não é de se admirar que queiram censurar quadrinhos, filmes e livros como vem ocorrendo no Brasil que vivemos atualmente. Mas, a arte sobrevive a tudo, pois é uma expressão da humanidade que existe em todos nós. Além disso, enquanto houver pessoas sensíveis nesse mundo ela vai proliferar revelando não somente a beleza das coisas, mas a sensibilidade inerente a todos nós!