Quase

O lindo menino da tez quase escura, sorriso quase branco, pedia quase nada, uma moeda, ou um prato de comida. Quase ouvido em seu mundo incompleto, comemorou a comida ganha com uma quase lágrima, quase última. Eu hoje sou quase aquela lágrima numa fome inteira de ser. Eu também quero me saciar. Eu também estou quase. Aliás, ouço uma multidão inteira cansada de quases, gritando por plenitude. Um jovem trabalhador quase dilacerado está dormindo em sua calçada gigante, mochila leve, quase gente. Eu quase choro inteira. Mas engulo meus pedaços. Meu choro só contém fragmentos de dor. Algumas dores nos constrangem porque são inteiras.

Déda Lizz
Enviado por Déda Lizz em 12/02/2020
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