NEM ME LEMBRO QUANDO... (BVIW)

... Faz tanto tempo e eu nem me lembro quando, já que a vida é longa e o pensamento é vago, o certo é que um dia eu nasci, com toda certeza meus pais ficaram felizes, ai eu fui crescendo... crescendo...CRESCI! Mas, como tomar conhecimento das coisas que aconteciam mundo a fora, se na minha cidadezinha besta não contavamos com meio de comunicação, a gente vivia em função da igreja, rezando com o senhor vigario, além do mais passava o maior tempo no engenho do meu pai e enquanto ele se preocupava em moer cana eu vivia livre e solta entre , animais e plantações .Ai chegou a hora de encarar os estudos. Já mocinha da cidade eu queria estudar música, compor e ser tão famosa quanto... Como desconhecia uma mulher compositora de nome consagrado, eu dizia: igual a Schubert, por conta de sua Ave Maria, que escutava todos os tardes. Queria ser inventora, como Thomas Edson, Santos Dumond, Alexandre Grham Bel, de cujas invenções tanto o meu avô falava. Queria ser filósofa, admirava Platão porque dele me falava o velho professor Cabral, afirmava ele que Platão possuía a sabedoria e também a arte e que o filósofo e o poeta moravam numa só alma. . Queria ser igual a Machado de Assis, afinal já tinha lido e relido A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia. Então, o meu velho pai me dizia: mulher não tem cabeça para essas coisas. E me mandava aprender a fazer bolo com a minha mãe, cuidar de crianças, lavar pratos e arrumar a casa com a Júlia e lavar roupa com a dona Maria Ventura.
PS: Não segui os conselhos do meu pai, segui em frente e hoje estou aqui .
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 12/02/2020
Reeditado em 12/02/2020
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