DEUSES E DOCES

Imaginem só; uma vovozinha deitada ao sofá da sala... Netos juntos dividindo o espaço mas não os pensamentos. Um no celular (coisa rara), o outro fuçando a estante empoeirada, o mais velho na mesa pensando no que não é lícito dizer. Daí a pouco entra sem bater o "evangelho da prosperidade" e toma posse da casa acompanhado da esposa como mero detalhe e mera serva trazendo consigo um queijo na mão e um doce na outra.

Nisso antes a vovozinha coitada, estava com uma vontade inimaginável e comentava que gostaria de comer alguma coisa "diferente", é daquelas coisas da vida que queremos e não sabemos o quê! O "evangelho da prosperidade" adentrou a sala dizendo a saudação como de costume a todos, uns responderam... outros nem se deram conta.

Papo vai e papo vem, ele chama a oração. A voz alta e embargada, os trejeitos a sua maneira, o ato de invocar e vender o seu deus a todos ali era até cabível como era sua profissão. Dominava a cartomancia bíblica, a atenção que demos e o desprezo que não conseguimos evitar de entregá-lo! Tudo acabando ele oferece, perguntando se pode deixar o doce e o queijo (que já estava a mesa nessa altura), seria "pro dia 15"... Aquela marota negociação de quem negocia deus! O chefe da família sorridente e satisfeito com o showman daquela tarde e à domicílio sai do quarto; vai pega o dinheiro; paga a vista os $70 e tudo fica bem, uma oração por $70 fica como título da estorinha.

Informo que, antes de aparecer por nuvens o "evangelho da prosperidade" a vovozinha perguntava ao chefe da família se teria uns quebrados/migalhas para então comprar o geladinho/gelinho para degustar e se refrescar naquela tarde calorosa com os netos; a resposta foi a que sempre ouvimos: que não tínhamos dinheiro, só tínhamos para as contas ou para os queijos como assim presumimos porque assim aconteceu de fato... Pra resumir imaginem só; não comemos também o queijo e nem o doce, a vovozinha ainda deitara para o outro lado do sofá e se arrependia do dia do casamento (risos). Quanta coisa naquele dia, quanta miséria de vida, quanta miséria de Deus, de honra, de respeito e de "prosperidade".