CRUZEIRO DEMOLIDO

CRUZ DEMOLIDA EM CONSELHEIRO PENA-MG

Tem coisa, que só vendo para satisfazer a nossa nostalgia. Outras, quando não mais vistas, ficam na nossa memória como um filme.

Nos anos 70, durante o dia, avistava ao longe a Pedra do Cruzeiro (ou simplesmente Pedreira) que ostentava uma cruz feita numa época em que o acesso ali, era penoso, ainda mais carregando areia, pedra moída, ferragens e outros materiais, com que fora construída a cruz com várias mãos.

A cruz tida por muitos anos como marco visual da cidade, um dia foi iluminada e nas noites estreladas seu brilho misturava com o clarão da lua.

Fincada num dos pontos mais elevados das proximidades da cidade, a cruz ficou anos a fio sem que o cidadão de Conselheiro Pena-MG desse conta de que a imagem, ora despercebida da nossa rotina ou às vezes marcante em nossas caminhadas, ficasse gravada na nossa mente.

Foram-se os anos dourados, das noites de belas serestas, dos muitos badalares dos sinos na Igreja Matriz de São José, dos ventos uivantes e temporais e a cruz lá da pedreira resistiu a todos os impactos causados pelo tempo, mas não resistiu à “mão humana” e atroz, destruidora que desconstruiu todo memorial visível há anos como um dos cartões postais da cidade.

No lugar da cruz que para os incrédulos nada representa, e para os religiosos tinham-na como simbolo sagrado, sobraram seus cacos demolidos e ao redor, torres de transmissão de celulares e outras, que surgiram com a evolução tecnológica.

A mão que poderia apenas construir e fazer a evolução, é a mesma que corroí e destrói as marcas do passado, e são capazes de afirmar que em tempo de visão do futuro, quem gosta de passado é asilo.

Olhei para a pedra do cruzeiro, entristecido pela ausência de uma cruz feita simplesmente de concreto. Não por ser uma cruz! Mas, por ser algo, que passado 40 anos da minha mudança da cidade, esperava novamente poder olhar e apreciar como registro mental da minha infância.

Com certeza, para quem determinou a demolição da cruz, e para quem deu as marretadas para o ganho de seu sustento, aquela coisa demolida não passou de um amontoado de entulho, enquanto toda cidade silenciou, baixou a cabeça e aceitou passivamente uma ação que não envolve religião e nem política, mas decência.

Quando chegamos em Paris temos a Torre Heifel, na América temos a estátua da Liberdade, no Japão o Templo de Mitaki, O Big Ben na Inglaterra, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, o “Padim Ciço” (Padre Cicero) no Nordeste do Brasil, e em Conselheiro Pena-MG, apenas as fotos expostas na vidraça do guichê da “Rodoviária” com pessoas simples que passaram por esta terra.