O morrer
"Morrer", segundo os cristãos é estar adormecido, inconsciente e num plano que foge aos nossos olhos.
Mas quanto a nós? Os que ficam?
O que é ver quem amamos se ir?
Você é tomado por pensamentos do tipo "Se colocassem em minhas mãos, o poder de percorrer os seis continentes do mundo, à procura de quem voltou pra terra, eu não poderia encontrar.
Pó somos! Ao pó retornaremos!
Esse sentimento também causa impotência! É estranho pensar num corpo que foi amplexo, ósculo, afago, embaixo da terra. Sendo corroído por vermes.
E quando chegar a minha vez?
O filosofo Epicuro, disse que "a morte nada é" porque enquanto estamos aqui ela não estar, e quando ela estiver nós não estaremos. No epicurismo, a morte seria a privação absoluta da consciência.
Mas e agora que tenho consciência? A ideia de parar de respirar, parar de existir, me apavora.
Não vejo a graça que todos dizem "O bom da vida é que ela tem fim" . Outro dia disse a minha avó que queria virar pedra. Viver, viver, morrer de viver. Pegar fogo, tomar o palito de chamas em minhas mãos.
Ter o poder de errar, erros bobos. Mas que levam ao inferno.
Para mim a morte é pálida, tem forma de vácuo, cheiro de frio.
Ela me levará um dia, no intervalo de tempo em que vejo minha vida passar diante dos meus olhos, ela me levará num milésimo segundo, na última terminação nervosa.
Claro, eu sou quente, comédia,
m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a, quando ela chegar, primeiro darei dois tapas em sua face e depois me fingirei de morta.
É nesse instante que meu show acaba, as cortinas se fecham, meu fôlego é tomado.
É nesse momento, antes da última batida, que penso na primeira batida que separa dessa, o que foi vivido! do momento que tive consciência, que não tinha vindo à passeio.
É nesse momento que no meu livro (dizem que existe um livro para cada um de nós, narrando nossos atos, bons ou maus ) escrevem "pecadora por excessos, jamais por privações ".