Diário de Bordo (De Abelhas, a canela de velho e salvamento de pombos: em Pasárgada tem de um tudo.)

Diário de Bordo (De abelhas, a canela de velho e salvamento de pombos: em Pasárgada tem de um tudo.)

Ainda não era nem dez horas da manhã desta terça-feira e eu já me encontrava com fome, e também um pouco sem ânimo, pensando se faria um café, ou então optaria por mais um suco de limão.

A alta temperatura, apesar da brisa fresca e constante do vento Nordeste, já me havia feito ir pela terceira vez me banhar nas águas do Cururupe, e eu estava protelando a necessária visita que teria de fazer à nova colmeia instalada aqui no Reino de Pasárgada.

Nessa indecisão que me acometida, o meu olhar resvalam numa bela formação de miconea albicans, (canela de velho para os mais chegados) e o tipo de chá que eu faria ali ficou definido de imediato.

Fiz a coleta das folhas para o preparo do meu chá, coloquei a comida no fogo para o almoço e descasque um coco para ir comendo enquanto o meio dia não chegava.

Um pouco de trabalho de enxada ali, um recolher de gravetos para o fogo de entre meio, e eis que água para o chá fica pronta.

Providenciei a infusão, retirei as panelas do fogo, e comecei uma renhida luta para calibrar os pneus da minha brava rockrider, que a toda essa movimentação assistia com ares beatificado de uma monja tibetana, sem mover uma palha pra me ajudar.

Depois de transpirar em bicas, dei por terminado processo de calibramento dos pneus dessa bike pouco cooperativa, e lá fui eu mais uma vez me enfiar no providencial Cururupe, subindo de volta para saborear o chá que já havia acondicionado na garrafa térmica.

Diferentemente das vezes anteriores, hoje eu resolvi adicionar açúcar demerara no chá, além de optar por uma nova formulação. Não poderia ter me surgido ideia mais apropriada, pois o resultado obtido foi uma bebida que degustei com gosto, sorvendo gulosamente até a última gota que havia no copo.

(...)

As fatídicas doze badaladas diúrnicas ainda não haviam soado e o Ramiro me liga, perguntando como estavam as abelhas em seu novo habitat. Informei para o gajo, investido nas funções de pai extremoso, que logo iria ver as meninas, missão que me propus cumprir assim que descansei da refeição do meio dia.

Depois de descer a ladeira encarapitado na minha bike, atravessei a ponte de madeira e subi a íngreme rampa que me levaria ao local onde estava instalada a colmeia.

Coloquei a bike no chão, bem acomodada no mato fofo, e me aproximei cuidadosamente da colmeia, a observar o laborioso vai e vem das meninas voejadoras.

Sai dali com algumas fotos produzidas, um rápido vídeo, e também demasiado encantado com a beleza dourada do trabalho das abelhas, começando a entender a enorme paixão do Ramiro por essas incansáveis produtoras de mel.

(...)

Já sentindo os efeitos renovadores do chá de canela de velho na minha velha carcaça, enfrentei galhardamente a grande ladeira que vem desde a ponte sobre o rio Curupitanga, num trecho de quase quatrocentos metros ininterruptos, e peguei a estrada pra Olivença, com a pretensão de chegar na bodega do Coruja, já novos domínios do território da Serraria.

Como o lépido e galhofeiro mancebo não estava na bodega, fiquei a conversar com o pessoal da Vila Cheiro, ocupados com a ampliação da casa da Pretinha, tempo que aproveitei pra mastigar uns jambo, e também ensinar a Nega a fazer uma limonada suíça que todo mundo aprovou.

Refrescado pela limonada, tablet recarregado, só me restou admoestar o Coruja, que chegou em sua moto fazendo a costumeira zoada. Apaziguei a pendenga entre a Cheiro e a Nega, pois a segunda estava a ameaçar transformar em comida os pombos da primeira, e me toquei de volta pra casa, pois o dia já caminhava célere para o seu final.

E assim se fez mais um dia aqui nas terras encantadas de Pasárgada.

Terras de Olivença, noite de terça-feira, décimo primeiro dia de Fevereiro de 2020

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 12/02/2020
Código do texto: T6864228
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